Rosani Schiller, 67 anos, é presidente da Associação Redeiras, professora aposentada e hoje artesã. Ela coordena o grupo de artesãs da Colônia de Pescadores Z-3. Essas mulheres transformam lixo em arte, reciclando escamas de peixe, redes de pesca e couro de peixe. A formação do grupo contou com orientação Sebrae/RS, que auxiliou na execução do planejamento de cada etapa do projeto, na criação das peças e na administração da coleção. Criando peças de artesanato através da reciclagem de materiais e resíduos da pesca, as redeiras pretendem ser uma referência na criação sustentável de acessórios femininos.
Como surgiu a ideia de transformar resíduos da pesca em peças de arte e acessórios?
Partiu do grupo junto com a designer, designada pelo Sebrae, em 2009, quando o projeto tomou corpo. A proposta foi fazer um artesanato que dissesse alguma coisa da Colônia Z-3. As mulheres já trabalhavam com escamas de peixe e resíduos. O que a designer fez foi dar um olhar diferente para o artesanato com reciclagem do descarte do pescador. Modificou a forma de usar a rede e a escama de peixe. No lugar de usar a rede em pedaços comuns, passaram a ser recortadas, transformando num tipo de um fio, podendo ser tecido tanto no tear quanto no crochê ou outras técnicas. E a escama foi utilizada recortando ela, dando formato e trabalhando ela naturalmente, sem tingimento, valorizando a peça.
Quais foram os aprendizados da parceria com o Sebrae e como isso influenciou no crescimento do projeto?
O Sebrae foi fundamental nesse processo, porque foi quem começou esse trabalho de grupo, que deu toda a estrutura inicial, toda a organização, suporte. Ensinou, através de consultores específicos, toda a parte de formação, associativismo, cooperativismo. A designer foi muito importante para o grupo, deu uma cara diferente e continuou por muitos anos apoiando.
Como você enxerga o impacto do trabalho na conscientização ambiental?
A questão ambiental é importantíssima. Lá na colônia, os pescadores já sabem que nós utilizamos as redes, as escamas, e eles nos avisam, então você não encontra mais essas redes atiradas por todos os lados, nos campos, nas praias, dando uma cara muito mais limpa para a própria colônia. Além, claro, da questão ambiental, que é indiscutível. Esse trabalho de conscientização vem sendo feito há muito tempo, junto a todos, e o resultado é altamente positivo.
Como vocês lidam com a aceitação em relação aos produtos feitos de resíduos?
Hoje é tranquilo. Hoje nós já somos conhecidas no Brasil inteiro. O pessoal já entende o que é a reciclagem da rede. Mas o início foi bem complicado. Era muito comum a pessoa pegar e a primeira coisa que fazia era levar ao nariz para cheirar. O pessoal olhava e não entendia o que era a reciclagem da rede de pescar camarão. A gente tinha que mostrar um pedaço de rede, o processo do recorte, para a pessoa entender. E a escama muita gente confundia com madrepérola, porque como ela era bonitinha, recortada, lixadinha, ficava com formato muito bonito e o pessoal tinha dúvida se era reciclagem mesmo. Hoje a gente já venceu essa etapa.
Qual o papel das artesãs no empoderamento feminino e no desenvolvimento econômico da Colônia Z-3?
Hoje as redeiras envolvem não só as nove mulheres do grupo principal, como muitas famílias, inclusive homens. Temos vários homens que prestam serviço para nós. Para a economia local, para muitas famílias, o artesanato é a fonte de renda principal, e para algumas é um complemento. Tem famílias que realmente dependem desse artesanato, que prestam serviço para nós, constantemente, não é esporádico, então realmente mexeu com a economia local.