Henrique Fuchs Bueno Repinaldo, 42 anos, é bacharel em meteorologia pela UFPel e mestre na área pela Universidade Federal de Alagoas, além de doutor em ciências atmosféricas e oceânicas pela Universidad de Buenos Aires (Argentina), com pós-doutorado pela Unesp, trabalhando com eventos extremos de chuva. Na Argentina, ainda foi professor universitário. Atualmente é meteorologista e pesquisador do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas (CPPMet) da UFPel, atuando nas áreas de previsão do tempo, pesquisa, desenvolvimento de produtos e ensino.
O que o motivou a seguir a carreira em meteorologia?
Inicialmente, escolhi o curso por gostar de física e matemática. Porém, ao longo dos estudos, houve um momento em que percebi o quão fascinante é entender como todos os processos na atmosfera e na superfície estão interligados. Desde então, me apaixonei pela meteorologia, uma ciência desafiadora, que está constantemente evoluindo à medida que tentamos compreender melhor fenômenos ainda não totalmente explicados, especialmente em um contexto de mudanças climáticas.
Como as previsões são usadas por outros setores, como agricultura e Defesa Civil?
Realizamos reuniões e emitimos boletins sazonais em conjunto com docentes da faculdade de meteorologia, onde analisamos as tendências esperadas para cada estação, como chuvas, temperaturas e a ocorrência de geadas. Essas informações auxiliam o setor agrícola na programação de suas atividades. Para a Defesa Civil, especificamente para a CREPDEC 4, que abrange os municípios da Azonasul, fornecemos boletins diários com a previsão do tempo e fenômenos esperados em um horizonte de 48 horas, oferecendo uma perspectiva regionalizada em apoio à Sala de Situação do governo do Estado. Além disso, recebemos frequentemente solicitações do setor de eventos, que necessita de previsões para a montagem de estruturas e realização de atividades ao ar livre. O Corpo de Bombeiros também recorre ao CPPMet durante incêndios florestais, já que informações sobre ventos e chuvas são cruciais para o combate a esses incêndios.
Como foi a experiência de participar da Sala de Situação durante a emergência climática de maio?
A Sala de Situação foi uma experiência marcante na minha carreira. Desde a minha formação como meteorologista, sempre tive como objetivo alertar a população sobre os perigos dos fenômenos meteorológicos. Na Sala de Situação, tive a oportunidade única de trabalhar com equipes multidisciplinares compostas por meteorologistas, hidrólogos, matemáticos, engenheiros cartógrafos, economistas e estudantes de graduação e pós-graduação. Essa colaboração foi essencial para entender o comportamento complexo das chuvas extremas, dos ventos, dos corpos hídricos da região e da drenagem urbana. Além disso, mantivemos um canal direto e aberto com gestores municipais e estaduais, que confiaram no nosso trabalho para tomar decisões em prol da segurança da população. A Sala de Situação desempenhou um papel fundamental na disseminação de informações confiáveis através da imprensa, garantindo que a população tivesse acesso a dados precisos, evitando a propagação de informações falsas ou previsões não baseadas em ciência.
Com cada vez mais eventos extremos, o que os estudos mostram sobre a frequência e a intensidade desses fenômenos no sul do Brasil?
Eventos extremos de precipitação estão se tornando mais frequentes e intensos no sul do Brasil, especialmente em relação a chuvas intensas em curtos períodos. A literatura científica destaca que muitos desses episódios estão ligados a sistemas atmosféricos complexos, como os grandes aglomerados de nuvens chamados Complexos Convectivos de Mesoescala. Além disso, fatores como a persistência de umidade no solo, a atmosfera mais aquecida e padrões climáticos globais, como o El Niño, têm contribuído para a maior severidade desses fenômenos.