Os recorrentes casos de veículos caídos em canais de Pelotas, presentes em canteiros centrais de diversas avenidas, levantam uma discussão sobre imprudência e insegurança. O último acidente foi na madrugada desta quarta-feira (2), na avenida Ferreira Vianna, em frente ao Shopping Pelotas. Além disso, já foram registradas ocorrências do gênero em vias como a República do Líbano, Juscelino Kubitschek e o prolongamento da Bento Gonçalves.
Atenção no trânsito
Os acidentes fazem a população supor os motivos que provocam a queda de carros nas canaletas. O frentista de um posto, Douglas Acosta, 25 anos, já trabalhou como entregador de delivery e aposta no comportamento dos pelotenses na direção como um fator importante para os acidentes.
Nelson Marsatti, 77 anos, dirige em Pelotas há muito tempo e elenca em primeiro lugar a falta de atenção de quem controla os veículos. “O trânsito está cada vez mais caótico”, pondera. Mesmo assim, considera trivial a necessidade de instalação de algum sistema de segurança ao redor dos canais. “Não me sinto seguro pensando só em mim. A gente precisa prever que pode acontecer alguma coisa dirigindo aqui. E se tivesse uma defesa nas canaletas seria melhor, daria mais segurança”, argumenta.
Risco potencializado
A doutora em engenharia de transportes pela UFRGS e professora do Centro de Integração do Mercosul da UFPel, Raquel da Fonseca Holz, analisa a questão da segurança viária em áreas com canais e a ausência de barreiras de proteção como um ponto sensível, principalmente quando há histórico de acidentes.
“Em Pelotas, onde os canais urbanos são uma característica da paisagem, a falta de barreiras como guard rails potencializa os riscos para motoristas e pedestres, especialmente em pontos de grande fluxo e/ou visibilidade reduzida”, aponta.
Para ela, embora a imprudência seja citada como causa principal dos acidentes, é importante considerar que os fatores de segurança viária estão interligados e a infraestrutura desempenha um papel fundamental. A ausência de guard rails ou barreiras de proteção reduz a margem de erro permitida aos motoristas. Além disso, falta de sinalização adequada, iluminação insuficiente e até condições do tempo adversas contribuem para o aumento do risco.
Ela destaca que a justificativa da prefeitura quanto aos custos elevados para a instalação de barreiras ao longo de todos os canais é válida, considerando a extensão necessária. No entanto, uma análise de custo-benefício mais aprofundada poderia ser feita. “A instalação poderia ser planejada, a princípio, de forma seletiva, priorizando pontos críticos com maior incidência de acidentes, curvas perigosas ou locais de grande fluxo”, julga.
Além das barreiras físicas, segundo Raquel, há outras medidas que podem contribuir para a segurança nesses locais:
- melhorar a visibilidade e orientação dos motoristas em áreas próximas aos canais;
- controlar a velocidade dos veículos em trechos mais críticos;
- trabalhar com ações educativas voltadas para os motoristas e pedestres, reforçando a importância de dirigir com atenção em áreas perigosas.
“Custo elevadíssimo”, diz STT
De acordo com o secretário de Transporte e Trânsito, Flávio Al-Alam, são muitos quilômetros de canais abertos na cidade, em avenidas como Juscelino Kubitschek, Ferreira Viana, São Francisco de Paula, Bento Gonçalves, entre outras. “Instalar uma estrutura de proteção representa um custo elevadíssimo para esse tipo de eventualidade”, diz.
A Secretaria de Transporte e Trânsito (STT) aponta que continua com campanhas educativas e de fiscalização para conscientizar os motoristas em relação à imprudência, que é a principal causa desses acidentes.