Regulação das apostas pode gerar impactos econômicos nos municípios
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Terça-Feira26 de Novembro de 2024

Economia local

Regulação das apostas pode gerar impactos econômicos nos municípios

Governo federal estuda pacote de medidas para limitar bets, sobretudo para pessoas que comprometem orçamento familiar

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Regulação das apostas pode gerar impactos econômicos nos municípios
Economista projeta que tributação pode ocasionar arrecadação de R$ 3 bilhões por ano aos cofres federais. (Foto: Jô Folha)

O governo federal estuda uma série de pacotes para limitar a atuação de bets, sobretudo dos sites de apostas que estão irregulares no Brasil. As medidas podem proteger as economias locais, principalmente em cidades como Pelotas, com grande número de famílias de baixa renda, uma vez que muitas pessoas acabam se viciando nas apostas online e comprometem o orçamento doméstico.

São duas medidas projetadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT): a suspensão imediata de mais de 500 sites de apostas que atuam sem regularização no país e a proibição de aportes financeiros de beneficiários do Bolsa Família com o cartão de crédito.

Beneficiários do Bolsa Família

Pelotas é o segundo município no RS com maior número de beneficiários do Bolsa Família (25,6 mil), atrás de Porto Alegre e à frente de Caxias do Sul e Canoas, cidades com população maior. Segundo o professor de economia da UFPel, Marcelo Oliveira Passos, o vício em apostas pode impactar fortemente a economia local.

“Na medida em que até o dinheiro do Bolsa Família é apostado, ele deixa de ir ao consumo de alimentos, transporte etc. Na medida em que as pessoas se endividam com os recursos essenciais, isso impacta as economias locais”, explica.

De acordo com Passos, as medidas do governo em regulamentar as bets vão em um sentido de “racionalidade” para os apostadores. “As pessoas vão apostando porque acham pouca coisa, e quando vão ver, a soma dos recursos acaba sendo representativo para o orçamento”, avalia o professor.

“Muitas bets foram criadas sem regulação no país e consomem os recursos sobretudo das pessoas mais pobres, que estão em busca do lucro fácil. Mas não é fácil ganhar nas bets. Na teoria dos jogos, as bets ganham mais dinheiros que os apostadores, senão o negócio não se sustenta”, completa o economista.

Passos conclui que a tributação pode gerar uma arrecadação de R$ 3 bilhões por ano ao governo federal, o que poderá ser transferido para medidas de bem-estar social. No país, segundo estudo da USP, há aproximadamente dois milhões de pessoas viciadas em jogos.

Potencial dano ao dia a dia

Segundo o psicólogo Luciano de Mattos, professor de psicologia da UCPel e pesquisador em saúde e comportamento, as apostas podem chegar ao ponto de “produzir disfuncionalidade na vida das pessoas”. Isso acontece naquelas que “têm dificuldades para se colocar o limite no jogo”.

Mattos considera que a identificação de comportamentos disfuncionais dos apostadores é uma regulamentação importante a ser feita, no sentido de a plataforma limitar os gastos dessas pessoas em apostas.

Comportamento do vício

O vício em apostas é semelhante ao de substâncias químicas, salienta Mattos. “Pessoas que iniciaram por características mais socioemocionais do que biológicas. A pessoa inicia nas apostas por curiosidade ou até por engajamento social, de participar de grupos e assunto para conversar com colegas e vizinhos. De repente, aquilo toma uma proporção maior, porque a pessoa direciona a preocupação ao jogo”, relata o psicólogo.

“Quando a pessoa fica esperando ganhar no jogo para se sentir melhor, mais respeitada e potente, é bastante prejudicial. A pessoa começa a viver em função de jogo, assim como um usuário de substâncias químicas. Há um aumento de inquietude, irritabilidade e angústia, pode-se diminuir a interação familiar e aumentar o número de mentiras, dificuldades de sono e alteração de apetite, esses são indicadores que a pessoa enfrenta um problema com o jogo”, conclui Mattos.

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