“A definição de sucesso e felicidade é diferente para cada um”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Terça-Feira26 de Novembro de 2024

Abre aspas

“A definição de sucesso e felicidade é diferente para cada um”

Professor em Canguçu, pelotense Gustavo Bluhm e Silva fala sobre o trabalho em escolas rurais

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“A definição de sucesso e felicidade é diferente para cada um”
Pelotense Gustavo Bluhm e Silva, 24 anos, é professor em Canguçu. (Foto: Renata Flores)

Gustavo Bluhm e Silva, 24 anos, é natural de Pelotas e se formou em licenciatura em letras português/literatura pela UFPel em 2023. Neste ano, foi aprovado em um processo seletivo para ser professor em Canguçu. Desde então, atua nas escolas do município. Ele diz que Canguçu é grande em território, com uma ampla zona rural, por isso todas as escolas que passou são do interior, uma realidade diferente e inusitada para ele, criado na parte urbana de Pelotas.

Como foi o processo de adaptação a trabalhar em escolas rurais?

Nunca almejei trabalhar em outro município. Já foi uma grande surpresa para mim atuar em outra cidade, quanto mais em uma realidade completamente oposta à minha. Sempre fui urbano, gosto do agito e das facilidades da cidade. De repente estou em uma realidade em que aquilo que fazia muito sentido para mim não se faz útil. Estar perto de comércios, padarias, farmácias. Esse tipo de coisa que para meu contexto seria impensável viver sem, se mostra pouco útil quando eles colhem o próprio alimento, abatem os próprios animais para consumo da carne, os resfriados são curados com chás e não com dezenas de comprimidos. A vida tem outro ritmo e significados. É importante ter a consciência de que ali quem precisa aprender sou eu, e nisso foi preciso me despir desse traje de “dono do conhecimento” para alguém que vai construir junto com os saberes daquela região, dos costumes e das coisas que fazem realmente sentido para aquela realidade.

Como a educação nas zonas rurais impacta a formação dos estudantes em comparação com a zona urbana?

A rotina e os afazeres nas escolas do campo são diferentes. Eu não posso formar e educar todos iguais, porque eles não são iguais. Se estivesse em uma escola no centro, talvez estaria formando futuros arquitetos, advogados, e nesta realidade a norma culta da língua tenha utilidade. Quando estou em uma escola rural, dificilmente eu vou achar alguém com interesse em ser arquiteto, por exemplo, e eu não posso formar o aluno para isso, porque, primeiro, ele não seria feliz numa profissão dessa, a definição de sucesso e felicidade é diferente para cada um. O aluno vai ter o sonho de ser plantador de milho, e não há problema algum nisso, muito pelo contrário, será em uma profissão dessa que ele se sentirá realizado pessoalmente, portanto a minha abordagem tem que fazer sentido e ter relevância para esse cidadão em construção.

De que forma você enxerga o papel da escola rural na formação de uma identidade cultural local?

Percebi que quando estamos a 46 quilômetros da cidade, com 1h30min para conseguir chegar, a escola é a única representação do Estado naquele lugar. Não há eventos culturais, bibliotecas, hospitais, delegacias, assistência social ou qualquer outro órgão. O que vemos é unicamente aquela escola, e sendo a única ali, é claro que vão cair no colo da escola todas as demandas da comunidade. Teve briga entre vizinhos? Vai respingar dentro da nossa sala de aula. E o professor, como peça central desse mecanismo, tem que estar bem amparado porque a responsabilidade é grande.

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