O pelotense César Lascano é músico, produtor e escritor. Iniciou sua carreira em 2011, participando de eventos culturais como Feira do Livro, Fenadoce, Projeto Verão e Sete ao Entardecer. Entre 2013 e 2015, integrou o projeto Diablues e lançou seu primeiro álbum solo, Ruas Cruas (2014). Foi idealizador de projetos como o Meio a Meio, com Igo Santos (2015-2017), e Plays The Samba (2014-atual). Como produtor, destacou-se em eventos como Jam de Boteco, Jam no Deck e Jazz & Blues Bender. Em 2020, recebeu o Prêmio de Reconhecimento da Cultura Pelotense e, em 2021, lançou o livro Contos da Arquibancada e o projeto Bloco de Blues. Em 2023, lançou o álbum Visceral, com importantes nomes do cenário gaúcho. Amanhã, ele promove mais uma edição do Bloco de Blues.
Como você vê a evolução da cena cultural de Pelotas ao longo dos anos?
O que podemos entender por “evolução” da cena cultural diz respeito essencialmente ao sentido literal da palavra, ou seja, não necessariamente a uma “melhora”, mas sim uma “adaptação ao meio”. A cena se transforma, surgem novos agentes culturais. Mas eu não consigo identificá-la como mais bem preparada e estruturada. A cena da cultura em Pelotas é muito forte, mas isso se deve mais pela força dos produtores e agentes locais do que pela movimentação do poder público.
Quais são os maiores desafios para o crescimento da cena cultural de Pelotas, e como podem ser superados?
A insuficiência das ações públicas. Uma transformação verdadeiramente duradoura só ocorrerá se for pensada a longo prazo. Potencializar os espaços para o desenvolvimento artístico, com a criação de novos pontos de cultura: teatros, ateliês, bibliotecas etc. Desde que eles tenham o mínimo de estrutura para tal. Que eles também sejam dispostos de maneira descentralizada, permeando os bairros e identificando o potencial de cada região da cidade. Um outro fator importante seria um maior investimento na estrutura da Secretaria de Cultura, que há vários mandatos sofre com a insuficiência de recursos, de funcionários e de prestadores de serviço. Muitas vezes, a Secult “tira leite de pedra” com a estrutura que tem.
Quais as principais demandas do público em relação à oferta cultural da cidade? E como inovar neste setor?
O pelotense é habituado a consumir cultura. O que é ótimo. Isso elimina uma etapa a mais, existente em muitos lugares, que é a de “despertar o interesse” no grande público. Entretanto, é necessário que haja qualidade e eficácia nas abordagens culturais, para continuar despertando esse interesse pelo produto, dando movimento e fluidez à economia da cultura. Com relação a inovação, uma das alternativas é buscar parcerias com a iniciativa privada, para financiamento de novos projetos culturais. Esse processo também se faz necessário para o empresariado entender que a economia da cultura traz retorno financeiro, e extinguir a ideia errada de que é meramente um agente X ou Y que pede um patrocínio sem oferecer nada em troca.
Como a literatura entra na sua carreira e qual a importância do diálogo entre diferentes expressões culturais?
A literatura sempre foi uma grande paixão minha, desde novo. Em termos de produção, o meu livro Contos da Arquibancada foi escrito entre 2013 e 2016, porém lançado somente em 2021. A partir daí, a dinâmica da minha relação com a literatura foi mudando, pois passei a perceber a potência da interação de um meio artístico com outro. Embora existam as mais variadas vertentes, é necessário entender que cultura é uma força só. Pensar na interdisciplinaridade é fundamental para instigar o público a interagir e, sobretudo, a absorver dinâmicas culturais do meio em que se coloca.