A homenagem ao médico José Brusque Filho, cirurgião da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas no começo do século 20, transfigurou-se em um espaço de homenagem a Billie Eilish, cantora e compositora estadunidense de 22 anos.
A homenagem a Brusque está documentada. O escultor catalão Antonio Campins ergueu o busto em 1968, e os dizeres talhados no granito agradecem ao cirurgião pelotense pelas ações de caridade e de medicina.
Sobre Billie Eilish: em algum dia no Centro de Pelotas, em algum ano recente, alguém resolveu, por algum motivo não-identificável, dizer que a ama, provavelmente com um errorex ou uma tinta branca qualquer.
As duas mensagens discrepantes em forma e conteúdo ocupam o mesmo monumento na praça Coronel Pedro Osório, um dos principais pontos turísticos de Pelotas.
O busto de bronze, deteriorado pela ação do tempo e do clima, a José Brusque Filho, sobre uma base robusta de granito, é o único em que há identificação na praça. Assim como todos os outros, Brusque Filho divide o espaço com as pichações, que vão desde mensagens de amor a opiniões políticas. Ou simples rabiscos e símbolos.
Peças furtadas, perdidas ou destruídas
Quem é o médico nascido em 1829, formado em medicina em 1849, que clinicou na cidade de 1849 a 1896, ano em que morreu? O passeante pela praça Coronel Pedro Osório não sabe o nome, mas sabe que há homenagem na cidade. Não se sabe o nome, pois uma das placas informativas foi furtada e a base de pedra está destruída há algum tempo.
O busto em homenagem ao Doutor Miguel Rodrigues Barcelos, o Barão de Itapitocaí, está quase em frente aos prédios do Itaú e do antigo Rex Hotel. Havia uma placa de metal com o seu nome, mas esta foi perdida ao longo do tempo. O professor de história da arte no curso de Conservação-Restauração da UFPel, Rodrigo Haiden, explica que muitas vezes o restauro de monumentos não é possível devido ao furto de peças, geralmente metais valiosos que são vendidos.
Assim, ele salienta que é fundamental fazer-se a “conservação preventiva” destas obras, que continham inicialmente busto de bronze, base de pedra e placas ornamentais ou informativas.
“É mais barato e ideal não estragar uma obra de arte ou bem cultural. Uma coisa é a ação do tempo, outra é uma tinta de picho. São soluções que impactam no custo final e tipo de profissional que vai trabalhar com essa peça”, detalha.
População lamenta
Frequentadores da Coronel Pedro Osório tendem a achar feias as pichações, como pode constatar-se nas conversas nos bancos, seja ao lado de João Simões Lopes Neto, o último monumento de bronze da praça, colocado em 2016, ou em frente à Fonte das Nereidas.
O baiano Ivan Gabriel dos Santos, 38, fiscal de loja, mora há dois anos em Pelotas. “Imagina se os monumentos estivessem bem polidos, bem cuidados, não ficaria lindo? Banheiro, bancos, está tudo deteriorado, não dá para vir passear e tomar mate. É uma pena, um ponto turístico descuidado assim”, lamenta.
“A cidade está toda jogada e atirada, falta de manutenção e cuidado. Antigamente era mais preservado”, diz o operador de máquinas Pablo Mesquita, que passeava com o filho em frente à Fonte das Nereidas.
Os prestadores de serviços gerais, Anderson Lucena e Rafael Gonçalves, apresentam opiniões divididas sobre as pichações. “Quando são uns desenhos eu acho onito, tipo uma que tem com letras em roxo ali nos banheiros [da praça]”, elogia Rafael. “Não essas frases aí, nada a ver, que só colocam pra se aparecer e deixar feia a cidade”, completa Anderson. “Lá no Dunas, onde eu moro, tem muita pichação massa, que é obra de arte mesmo”, conclui Rafael.
Desconhecimento das homenagens
Seis dos sete bustos de bronze erguidos entre as décadas de 1950 e 60 estão sem placas informativas na Coronel Pedro Osório. Assim, quem frequenta a praça muitas vezes não sabe a quem o município destinou as honrarias.
Prefeitura busca apoio da iniciativa privada
O secretário de Cultura, Paulo Pedrozo, diz que a prefeitura busca parcerias com a iniciativa privada para auxiliar na limpeza e manutenção dos monumentos da praça Coronel Pedro Osório.
Pedrozo afirma que a prefeitura promove campanhas educativas e mantém “vigilância reforçada para manter os monumentos em bom estado”, mas necessita de “intervenções constantes para remover e restaurar superfícies danificadas”.