Já registrada na última segunda-feira (9), a queda de “chuva preta” em Pelotas é um fenômeno que vem sendo causado em virtude da fumaça dos incêndios florestais que acontecem no restante do país e no exterior. Segundo o meteorologista do Centro de Pesquisa e Previsão Meteorológica (CPPMet) da UFPel, Henrique Repinaldo, a chuva com fuligem é resultado do canal de ventos que transportou a fumaça das queimadas em direção à região Sul do Estado.
O especialista esclarece que essa fumaça não está próxima à superfície terrestre, acima de dois mil metros de altitude, sobre as nuvens, portanto não é possível vê-la a olho nu enquanto não há precipitação. Com o céu limpo, é possível perceber a fumaça à medida que a radiação solar perde sua intensidade natural. “Quando forma uma nuvem de chuva, a água condensa ao redor das partículas de fuligem que vêm das queimadas, que estão na nuvem. Essa gota contaminada pesa e acaba chovendo”, explica Repinaldo.
A gota d‘água não é completamente preta, mas contém partículas que ficam visíveis a olho nu quando concentradas por cima de veículos de cor clara, por exemplo, ou se essa água ficar acumulada em vasilhas ou calçadas, aparentando uma coloração mais escura. “Na segunda-feira sentimos inclusive um pouco do cheiro. Porque a fuligem chegou perto da gente por causa da chuva e sentimos aquele cheiro de incêndio apagado”, aponta.
Chuva não é tóxica
Segundo o professor de meteorologia da UFPel, Marcelo Alonso, essa fuligem não tem capacidade de alterar o pH da água a ponto de caracterizar a chuva ácida. Mesmo que essa fuligem se agregue aos mananciais, o professor ressalta que a toxicidade da água consumida não será afetada, já que o processo de tratamento filtra essas partículas. “Não há o que se preocupar com a toxicidade da água”, afirma.
Recomendações
O governo do Estado divulgou as recomendações necessárias para as pessoas neste momento em que está comprometida a qualidade do ar no Rio Grande do Sul. Entre as principais medidas para a população estão:
- beber mais água para manter a umidade das vias respiratórias;
- evitar atividades ao ar livre quando a poluição estiver alta e manter portas e janelas fechadas;
- usar máscaras para reduzir a inalação de partículas (lenços ou máscaras de pano para partículas grossas, e N95 ou PFF2 para partículas finas);
- evitar exercícios físicos em dias com alta poluição;
- crianças, idosos e gestantes devem estar atentos a sintomas respiratórios e procurar um médico se necessário.