Há 100 anos, os jornais noticiaram as celebrações em torno dos 40 anos do fim da escravidão em Porto Alegre. A capital dos gaúchos declarou livres todos os escravizados em 9 de setembro de 1884, quatro anos antes da promulgação da Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888 pela princesa Isabel enquanto regente do Brasil. Por sua vez, Pelotas se uniu a mesma campanha abolicionista e “a cidade considerou extinta a escravidão, realizando a Festa da Emancipação em 16 de outubro de 1884”, conforme o Dicionário de História de Pelotas, organizado pelos historiadores Beatriz Ana Loner, Lorena Almeida Gill e Mario Osorio Magalhães.
O historiador Caiuá Cardoso Al-Alam, professor da Unipampa, lembra que essa campanha abolicionista de 1884 foi nacional. “Ela começa pelo Ceará, declarando a abolição e aí vai pegando outras províncias”, conta. O Rio Grande do Sul foi um dos primeiros, juntamente com o Ceará, a aderir ao pleito.
Por muito tempo a agenda de 84 ficou como referência entre as províncias, como fator de propaganda política. “Mas a gente sabe que houve muitos problemas, porque a escravidão não acabou, essas liberdades foram sob contratos de trabalhos”, esclarece.
O professor lembra que as elites tinham uma grande resistência à abolição, entre os fatores estavam o olhar preconceituoso sobre a população negra, que para esses escravistas, deveria ter suas liberdades tuteladas, pois não saberiam viver de forma livre. Um outro ponto de desacordo era com relação à indenização aos “proprietários”.
Indenização em pauta
“Essa abolição de 84 foi pautada pela indenização nos contratos de trabalho. Vou te dar a liberdade, mas tu tens que trabalhar por mais cinco anos para pagar todo o investimento que foi feito”, exemplifica o historiador. Informação corroborada pelos historiadores do Dicionário de História de Pelotas, no verbete Abolição: “continuaram a existir muitos escravos e os contratados estavam insatisfeitos, pois se consideravam logrados com uma liberdade adquirida apenas no papel”.
Muitos clubes abolicionistas foram criados nessa época, alguns apoiavam os contratos de trabalho indenizatórios. “Faziam grandes festas celebrando a abolição, mas no fundo isso tudo foi muito hipócrita. Muitos desses barões de Pelotas e de todo o país ganharam seus títulos por causa dos contratos de trabalho, um deles é o Barão de Três Cerros (Aníbal Antunes Maciel). É interessante esse debate por isso. Estruturalmente essa abolição foi um engodo ao povo negro”, avalia o pesquisador.
Fonte: jornal A Opinião Pública/Acervo Bibliotheca Pública Pelotense