Márcia Funke Dieter, autora de 18 livros infantis, percorre escolas de São Lourenço do Sul, Canguçu e Camaquã desde quarta-feira com o projeto Pare, olhe, ouça e sinta: o bullying na escola, através do Ministério da Cultura. Na proposta, a escritora gaúcha trabalha a obra Uni com alunos da educação infantil e do primeiro e segundo ano do ensino fundamental, além de fazer palestras para professores.
O livro Uni, com ilustrações de Silvana Santos e versão em braille, tem como protagonistas Sophia, uma menina com cabelo arco-íris, e Uni, um cavalo que possui um chifre na cabeça. Por meio da amizade, cumplicidade, respeito e muito amor, a dupla mostra aos leitores o quanto suas singularidades os tornam especiais. Por trás deste contexto lúdico, a obra destaca o respeito às diferenças e o quão nocivo pode ser o bullying.
Como surgiu o Uni?
O livro surgiu de uma proposta de trazer para as crianças um pouco sobre as diferenças, de modo lúdico e encantador, porque as crianças pequenas adoram unicórnios e eu queria muito trazer uma história, mas não trazendo esse unicórnio estereotipado, porque quando a gente olha os desenhos são sempre aqueles unicórnios com asas, coloridos. Na capa do meu livro tem um unicórnio colorido enorme, mas quando tu vais começar a ler a primeira coisa que tu te deparas é com um unicórnio com crinas sem cor. Ele fica com as crinas coloridas quando ele sai para cavalgar com a Sophia que tem os cabelos coloridos. Em nenhum momento explica essa mudança. Fica em aberto para as crianças e elas trazem várias respostas: “ficou colorido porque ele não sofre mais bullying”. “ficou colorido porque agora ele é mágico”. As crianças vão trazendo respostas.
O que te motivou a escrever sobre o tema?
Faz três ou quatro anos que eu publiquei esse livro. A ideia de escrever o livro foi falar de um tema sensível como o bullying, sem falar em bullying. Quando eu conto a história e a gente começa a conversar, o tema vem à tona: “isso é bullying”. Mas dentro do livro isso não está inscrito. Quando aconteceu aquele episódio em Santa Catarina no ano passado, em que um menino entrou numa escola de educação infantil e acabou assassinando algumas crianças, veio à tona que ele sofria com o bullying. Eu pensei que tinha que fazer alguma coisa enquanto professora e escritora eu entro em muitas escolas do Estado, aí surgiu a ideia do projeto sobre o bullying. A nossa ideia é falar desde cedo sobre isso, com o livro Uni como motivador dessa conversa. Quanto mais cedo a gente conversar sobre isso, melhor, não adianta conversar só nas séries finais, aí eles já construíram muita coisa. Mas a gente não pode parar de falar sobre isso nunca.
Como é a dinâmica em sala de aula?
Eu sou contadora de histórias também, escritora há 17 anos e sou professora há mais de 25 anos. Juntei as três coisas, como eu tenho contato com as crianças e consigo conversar com elas. Na sala de aula eu primeiro faço uma conversa com elas e falo das diferenças, que têm crianças altas, baixas, magrinhas, gordinhas, de pele clara ou escura, vou fazendo essa fala e como eles são bonitos por eles serem importantes e diferentes e que o mundo fica lindo por causa das nossas diferenças. Depois disse eu digo que vou contar uma história para eles. Eu conto a história do Uni e depois eu mostro o livro e pergunto o que eles lembram daquela parte da história. Aí a gente começa a conversar. Eles vão trazendo as suas vivências e nesse momento eu pergunto se o bullying é brincadeira, porque muitos dizem que é só uma brincadeira. Aí eu trago uma questão bem importante, desde janeiro deste ano pela Lei de número 14.811/24 o bullying virou um crime. Digo pra eles que é tão sério que virou crime. É uma conversa muito intensa, profunda, mas de uma forma lúdica através da literatura.