Enfermeira da Secretaria de Saúde de Pelotas, Caroline Ullrich, 37 anos, preside o Conselho da Pessoa com Deficiência na cidade. Desde que nasceu, convive com a escoliose e a medula presa, que diminuiu sua capacidade motora com o tempo. Hoje, Caroline se desloca apenas com o auxílio da cadeira de rodas.
Como é o convívio com a deficiência no ambiente de trabalho?
Não é nada fácil ser da área da saúde. Eu lido diretamente com paciente. Na verdade, com paciente eu não tenho problema. Mas tive bastante no início com os colegas, porque é uma questão de aceitação, inclusão, até acreditarem que tu pode fazer um bom trabalho com um paciente, mesmo tendo uma deficiência. Hoje também faço biomedicina, mas amo enfermagem. Cresci dentro do hospital, então era ou amar ou odiar. Foi bem difícil. A minha família nunca teve recursos. Sempre quis mostrar que eu podia e que eu conseguia. Mesmo com uma deficiência.
Quais foram os principais desafios?
Enfrentei algumas dificuldades pessoais no trabalho. Fiquei muito tempo sem ter um banheiro acessível. Hoje tem, mas no início não tinha. Não tínhamos porteiro, tanto que fui vítima de assédio sexual duas vezes. Tinha que implorar o acesso a uma rampa. Essa aceitação dos colegas de trabalho. Então, o início foi muito difícil. Mas sempre convivi muito bem com a minha deficiência. Nunca fui superprotegida pelos meus pais e pelo meu irmão. Passei por bullying, mas toda criança passa. A maior dificuldade foi na vida adulta.
Como você vê o cenário para a pessoa com deficiência em Pelotas hoje?
Como presidente do conselho, vejo que tem tanta gente passando por tanta coisa. Acho que a prefeitura deveria olhar não só a questão da acessibilidade, mas também do comprometimento da pessoa com o tratamento. Porque tudo é muito caro. A gente não tem muito acesso ao atendimento diferenciado que necessitamos. Não adianta ter várias rampas na cidade, e a pessoa não ter acesso à saúde. Por exemplo, não tenho uma cadeira motorizada. Várias pessoas que precisam também não têm. E não é uma questão de estética, é de acessibilidade, de ter como se locomover sozinha, não depender de outra pessoa. Eu vejo que não tem muita união entre as entidades que representamos, mas acho que isso vai mudar.
E o trabalho coletivo acerca do tema?
Devemos conseguir a união entre as entidades. Todos somos deficientes, cada um com a sua dificuldade, mas acho que nenhum é mais que o outro. Juntos conseguimos a inclusão e uma nova forma de ver a pessoa com deficiência, não só vitimizando aquela pessoa. Parar com o capacitismo, porque a pessoa com deficiência tem direito como qualquer outra pessoa. Só tem que se encaixar, e para isso os governos devem propor acesso a isso.