Refinaria Riograndense cada vez mais próxima de se tornar a primeira biorrefinaria do país

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Refinaria Riograndense cada vez mais próxima de se tornar a primeira biorrefinaria do país

Processo de transição energética deve ser iniciado em 2026

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Refinaria Riograndense cada vez mais próxima de se tornar a primeira biorrefinaria do país
Com investimento de R$ 5,5 bilhões, o projeto visa tornar a refinaria a primeira no Brasil a produzir combustíveis 100% renováveis a partir de óleos vegetais e outras matérias-primas sustentáveis (Foto: Jô Folha)

A primeira refinaria de petróleo do Brasil, com seus 88 anos de atividade, está localizada em Rio Grande. Além dos olhares voltados para seu complexo portuário, a cidade também observou, ao longo de 2025, o avanço dos testes para processamento de biomassa orgânica para transformação em energia renovável acontecerem na Refinaria Riograndense (RPR). Com expectativa de início da transição para 2026, a região deverá sediar a primeira biorrefinaria do Brasil.

Os primeiros testes foram realizados em maio de 2023 com o processamento de 100% de óleo de soja em uma unidade de craqueamento (FCC), que resultou na produção de combustíveis e insumos petroquímicos. Essa operação, a partir da tecnologia desenvolvida pela Petrobrás, levou à primeira produção e comercialização de Bio-GLP (gás de cozinha) do Brasil.

Os outros dois testes foram realizados neste ano e confirmam a maturidade técnica do projeto, reforçam a competitividade internacional da Refinaria de Petróleo Riograndense e a expectativa para a operação plena em 2026.

Testes em 2025

Após a RPR ter sido a primeira refinaria do mundo a processar 100% de óleo vegetal em 2023, os dois testes realizados ao longo deste ano a colocaram em um novo patamar no biorrefino mundial.

A primeira análise, em fevereiro, contou com o coprocessamento de carga mineral com 5% de bio-óleo (matéria-prima avançada de biomassa não alimentar). Com o sucesso da operação, a Refinaria Riograndense foi a primeira do país a produzir combustíveis com celulose. A partir deste pioneirismo, ficou comprovada a possibilidade da produção de derivados de petróleo a partir de madeira ou outros resíduos agrícolas altamente abundantes no planeta.

O segundo teste de 2025, terceiro desde o começo do projeto, processou Technical Corn Oil (TCO) e óleo de soja para produzir combustível 100% renovável. Nesta etapa, o destaque ficou com o trabalho contínuo da unidade de craqueamento, sem a necessidade de parada das atividades. O resultado foi um produto de alta qualidade que poderá ser utilizado como componente de gasolina automotiva em mercados internacionais. Além disso, o teste atendeu a todos os requisitos ambientais e de qualidade, o que significou um marco decisivo na transformação da refinaria e no acesso ao mercado internacional de biocombustíveis avançados.

Projeto da biorrefinaria

(Foto: Divulgação)

Com investimento de R$ 5,5 bilhões, o projeto visa tornar a refinaria a primeira no Brasil a produzir combustíveis 100% renováveis a partir de óleos vegetais e outras matérias-primas sustentáveis, como o diesel verde (HVO) e combustível de aviação sustentável (SAF).

O projeto completo da Biorrefinaria Riograndense prevê também compreende a instalação de unidades com capacidade de processamento anual de 800 kta de matéria prima renovável, com investimentos da ordem de US$ 950 MM a serem aplicados na planta de Rio Grande.

A decisão final do investimento deve ocorrer no primeiro semestre de 2026. Sendo aprovado, o cronograma de execução deve iniciar em 2026, com previsão de partida em 2028.

Entrevista

Engenheiro mecânico de formação e natural do estado de Minas Gerais, Lício França assumiu em novembro deste ano como diretor superintendente da Refinaria Riograndense, no lugar de Felipe Jorge, que estava à frente do cargo desde julho de 2020.

Lício ingressou na Petrobras em 2005 e, até assumir a Refinaria Riograndense, ocupava o cargo de gerente de Operações da Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim (MG). O novo diretor superintendente possui experiência de mais de 20 anos na indústria de óleo e gás, com foco em operações de refino. Um dos seus principais desafios no comando da refinaria será o encaminhamento do processo de transição energética.

Sobre os próximos passos e as expectativas para 2026, o novo diretor superintendente da RPR conversou com o A Hora do Sul.

Como está o processo de transição para a Biorrefinaria e quais são as expectativas para o início do processo?
A partir do ano que vem, a gente já faz uma parada em todas as nossas unidades. Com a parada do FCC, que é o craqueamento, vamos transformá-lo em totalmente renovável a partir de fevereiro. A ideia é que a gente processe óleo de soja juntamente com TCO, que é um resíduo da produção do etanol de milho. Então essas duas matérias-primas renováveis vão servir de carga e vamos produzir os biocombustíveis. Vamos ter ali o nosso gás de cozinha, a bionafta para incorporação à gasolina e o LCO, no diesel. A gente tem um produto bem nobre para fazer essa incorporação ao diesel, que é o óleo clarificado, que a gente também está buscando no mercado, talvez como um óleo combustível renovável. Então, a gente já começa o ano de 2026 fazendo essa transição de uma refinaria fóssil para uma biorrefinaria.

Como é que está o momento para esse grande projeto? Podemos esperar operações já em 2026?
Para o projeto da biorrefinaria, ele é um pouco mais longo. É um projeto em que a gente está finalizando o projeto básico. Vamos iniciar em março o projeto de detalhamento. E aí, sim, ao final de 2026, início de 2027, a gente começa a obra da biorrefinaria propriamente dita. Mas, para o FCC renovável, a ideia é que ele já comece agora em fevereiro e no início de março, já estejamos com essa unidade em operação.

Qual o impacto dessa mudança para Rio Grande e região?
Não só a obra, que é um investimento muito alto, porque quando a gente fala da biorrefinaria, esse passo deve levar de dois a três anos, ela [a obra] tem um investimento de cerca de um bilhão de dólares. Então vai gerar empregos diretos e indiretos. Mas, o grande negócio, que vai ser perene, não só para a refinaria, mas para o estado do Rio Grande do Sul, é toda a cadeia logística de suprimento. O Rio Grande do Sul é historicamente um estado do agro, então há uma sinergia muito grande com esse projeto da biorrefinaria. Vamos ter produtores locais, nas redondezas de Rio Grande, produzindo insumo, matéria-prima renovável para a refinaria. E mais: a refinaria está acoplada a um porto, o que nos permite ganhar mercado mundial facilmente, devido a essa logística importante que a refinaria tem, assim como o Estado. Com essa mudança, sendo a primeira biorrefinaria do Brasil, a gente inclui não somente a Refinaria Riograndense, mas o Rio Grande do Sul e a cidade de Rio Grande dentro de uma agenda que se fala muito em sustentabilidade, em resiliência climática e nesses biocombustíveis que estão cada vez mais difundidos.

Esse reaproveitamento de resíduos que antes seriam descartados, é uma percepção de momento ou algo que veio para ficar?
Sem dúvida nenhuma veio para ficar. Cada vez mais resíduos agrícolas que eram descartados hoje já geram energia. Muitas empresas já utilizam caldeiras à biomassa, que podem vir da soja, de resíduos de madeira ou de diversos tipos de plantação. Eu vejo que não é algo momentâneo. É uma linha que vai seguir e aumentar cada vez mais.

O quanto o projeto da biorrefinaria representa para a sustentabilidade da própria refinaria?
Eu diria que esse projeto é fundamental. Hoje, a Refinaria Riograndense, quando a gente olha para o negócio fóssil, ficou um pouco para trás. Os combustíveis evoluíram ao longo do tempo, com diesel e gasolina de baixíssimo teor de enxofre, e a refinaria tem dificuldade de competir com unidades que possuem HDTs para remover esse enxofre. Quando ela faz essa transformação, tudo muda. Ela passa a ser a primeira refinaria do país e agora tem tudo para ser a primeira biorrefinaria do país. É como se nascesse novamente para operar por mais 100 anos nesta rota.

O que espera que seja destacado em dezembro de 2026 a partir da refinaria?
Esperamos estar operando com craqueamento renovável 100% e que a obra da biorrefinaria já esteja pronta para iniciar. Que a gente tenha passado por todas as etapas necessárias em 2026 e esteja a ponto de começar a obra, com contratação de pessoas e de empresas.

 

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