À frente da Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul), o prefeito de Pinheiro Machado, Ronaldo Madruga (PP), avalia que a experiência foi marcada pelo diálogo entre diferentes forças políticas e pela construção de uma agenda comum para a região. Em entrevista, ele faz um balanço do período, aponta avanços na área da saúde, reconhece desafios que permaneceram e reflete sobre a solidão das decisões no exercício do cargo, além de projetar os principais desafios do seu município para os próximos anos.
Como foi sua experiência à frente da Azonasul?
Foi uma vivência ímpar na minha vida. Com a construção coletiva com os 23 prefeitos, de partidos diferentes – mas que sempre se respeitaram – foi possível definir o que era melhor para a região e ter uma visão clara das problemáticas: mais políticas públicas, desenvolvimento econômico e qualificação da mão de obra. Ao mesmo tempo, temos uma Zona Sul fortalecida, com uma associação de prefeitos atuante. Não sei se terei novamente essa sensação, mas espero que sim. É um trabalho totalmente voluntário e, em contrapartida, há o ganho imensurável ao tentar transformar a realidade da sociedade que pede socorro.
O que o senhor não conseguiu fazer e gostaria de ter feito?
Gostaria de ter conquistado um hospital ortopédico para a região. Temos um número grande de pessoas aguardando procedimentos, mas não conseguimos sensibilizar os gestores. Quem sabe essa luta continue, que o próximo gestor mantenha pressão junto ao governo do Estado. Há também a deficiência de mão de obra. Se essa pauta fosse tratada de forma exclusiva, seria possível buscar profissionais em todo o país, algo que não existe na região.
O que o senhor conseguiu fazer e gostaria de destacar?
Avançamos no fortalecimento das Santas Casas, evitando que a de Rio Grande fechasse. Também, a partir de janeiro, serão iniciados mutirões de ortopedia nesse hospital. Houve atuação em relação ao Ceron, para entender o que estava acontecendo com a fila de espera, que chegava a 72 dias para consultas. Essa situação foi regularizada pela Santa Casa de Pelotas. Sempre nos posicionamos contra a concessão dos pedágios, mas reforçando a importância da qualidade dos serviços para quem usa as BRs. Os serviços precisam ser ofertados nos mesmos moldes. Também destaco a caravana a Brasília, quando o senador Paulo Paim (PT) anunciou recursos para municípios com forte vocação no setor primário.
O prefeito muitas vezes enfrenta o dia a dia de forma isolada, acumulando pressões e situações complexas, como vimos recentemente em São Lourenço do Sul após o ciclone. Diante disso, a função de prefeito é, de fato, um trabalho solitário?
Na maioria das vezes, sim, acabamos solitários nas decisões. Quando o prefeito de São Lourenço do Sul expressa a tristeza com os eventos climáticos, nós compreendemos, porque já vivemos isso. Ouvimos relatos de pessoas, que dizem: ‘trabalhei a vida inteira, tudo que conquistei foi para construir minha casa e perdi tudo’. Elas vivem um luto climático que jamais será apagado. Desde 2022, temos convivido com eventos extremos e que, infelizmente, não temos como frear completamente. O que nos resta é buscar mecanismos de contingência e propostas que garantam o assistencial.
Falando de Pinheiro Machado, quais são os principais desafios para 2026?
O principal desafio é o regime próprio de previdência. Até 2028 conseguiremos manter as finanças equilibradas, mas, para mitigar os déficits no fundo de aposentadoria e pensões, é necessário ampliar a receita do município. Isso permitiria investir mais e equilibrar a conta. Na minha avaliação, o Estado deveria incentivar a exploração das vocações de cada município do interior. É preciso tirar essas potencialidades de dentro do casulo para fazer florescer o interesse por investimentos. Muitas vezes, o que falta é equipe técnica e corpo especializado para realizar esses estudos, que são caros. O governo do Estado possui mecanismos e recursos para apoiar esse processo.
