É como se o Theatro Guarany fosse nosso

Opinião

Jarbas Tomaschewski

Jarbas Tomaschewski

Coordenador Editorial e de Projetos do A Hora do Sul

É como se o Theatro Guarany fosse nosso

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A notícia exclusiva dada pela Rádio Pelotense 99.5 FM e o jornal A Hora do Sul, de que está na mesa dos acionistas do Theatro Guarany uma proposta de R$ 25 milhões para a venda da tradicional casa de espetáculos, sacudiu Pelotas, cuja memória com o local está ancorada em riquezas afetivas. Shows, peças de teatro, filmes, apresentações, carnavais, palestras, debates políticos e formaturas. O Guarany sempre foi a casa da cidade para os eventos. Também absorveu a demanda do Sete de Abril, fechado há 15 anos.

Costumamos usar o coração com aquilo que não é nosso, não nos diz respeito, mas desperta o interesse pela representação em nossas vidas. Encerre o Grêmio Esportivo Brasil e o Esporte Clube Pelotas para acender um verdadeiro barril de pólvora. Anuncie a mudança da Biscoitos Zezé para outra cidade e se prepare para uma guerra. Cogite doar um dos chafarizes históricos e veja o que acontece. Não temos qualquer responsabilidade sobre eles, mas o sentimento é de posse emocional. Lá no fundo, há uma ligação intrínseca pronta para despertar em momentos sensíveis.

O anúncio da possível transferência de gestão do Guarany ao Serviço Social do Comércio (Sesc/Fecomércio-RS), autor da proposta de compra, não promoveu tempestades na opinião pública. Ao contrário, parece unânime que o local precisa passar por ampla reforma e melhoria nas suas dependências. Algo na faixa de centenas de milhares de reais — talvez milhões — para voltar a acomodar com conforto o público. O mais visível dessa ação do tempo encontra-se nas poltronas, hoje incômodas a quem precisa permanecer de duas a três horas sentado enquanto assiste aos espetáculos.

A seriedade e o profissionalismo do autor da proposta financeira, o Sesc, ajudam muito a conduzir a opinião popular. Sabe-se que, se concretizado o negócio, o Guarany ficará em boas mãos. Não haverá risco de cair no colo de aventureiros e de se interromper a agenda cultural da cidade, que ali é marcante. Exatamente o oposto, tende a ser potencializada. Mais ainda, haverá recurso para serem feitas as reformas tão necessárias. A expectativa é de conquista, não de perda.

Esse é um movimento que o Sesc-RS vem fazendo no Estado. No encerramento de 2024, adquiriu por R$ 18,5 milhões o imóvel da Escola e Faculdade São Judas Tadeu, em Porto Alegre. Este ano, comprou o antigo Hotel Weiand, em Lajeado, para transformá-lo numa unidade de serviços, uma escola Senac e um hotel-escola. Investimento de cerca de R$ 30 milhões. Na Zona Sul, a prefeitura do Rio Grande concedeu o antigo prédio dos Correios à entidade. O Sesc fará a revitalização, com o objetivo de instalar uma escola de educação infantil.

Em entrevista ao Debate Regional da Pelotense, o advogado Gustavo Gazalle, à frente do processo na Justiça, falou a respeito. Para ele, a proposta é a oportunidade de resgatar o imóvel e buscar a condição que ostentou nas melhores décadas, quando encantou Pelotas e o Rio Grande do Sul.

O teatro irá decidir seu futuro próximo de completar 105 anos, resultado que todos vão acompanhar atentos, por reconhecer sua importância. Como consta na ação que tramita na Justiça: “É imperativo salientar a importância do Theatro Guarany para a cidade de Pelotas e para todo o contexto sociocultural do Rio Grande do Sul. O imóvel é um símbolo cultural, um marco arquitetônico e um importante acervo imobiliário, cuja preservação e funcionamento são de interesse público. A inclusão no Inventário Municipal e no Iphan demonstra o reconhecimento oficial de seu valor imaterial.”

Se será o último ato enquanto iniciativa privada, saberemos em breve. Na plateia, uma certeza: estarão os espectadores, prontos para aplaudir de pé a centenária casa da cultura.

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