Neste ano, o Brasil alcançou a marca de 5 mil pessoas com superdotação, segundo levantamento da Associação Mensa Brasil, vinculada à principal organização de alto QI do mundo.
Do total de identificados no país, 1,9 mil são crianças e adolescentes e 3,1 mil são adultos. O número garante ao Brasil a sexta colocação no ranking global Mensa Internacional, ao lado do Japão, e atrás apenas dos Estados Unidos, Ilhas Britânicas, Alemanha, Suécia e República Tcheca.
Ainda assim, especialistas afirmam que há subnotificação nos números oficiais, o que dificulta o acolhimento e atendimento adequado às pessoas com altas habilidades e, em maior grau, às crianças em idade escolar. Geralmente, a educação especial na perspectiva inclusiva foca em alunos com deficiência, com transtornos globais ou no espectro autista, e nem sempre olha com a atenção devida para as altas habilidades.
Anniely Costa é psicóloga e especialista nesta parcela da população e esclarece como é o convívio e o desenvolvimento de pessoas com esta condição.
Como é uma pessoa com altas habilidades?
É uma pessoa que se destaca em algo, que faz algo muito bem. Pode ser academicamente, uma pessoa que é ótima nos estudos, que tira boas notas, que ganha prêmios, que se sai muito bem em uma faculdade. Pode ser uma pessoa que lidera muito bem, que empreende. Pode ser uma pessoa com talentos artísticos, que canta, que produz obras de arte. Pode ser uma pessoa com talentos para esportes, um jogador de futebol que se destaca, um atleta olímpico. São pessoas com, verdadeiramente, altas habilidades.
O que é essa condição?
Altas habilidades é um mecanismo que pode ser treinado e desenvolvido. Então, a partir de um ambiente que propicie entrar em contato com uma determinada atividade, que a pessoa se identifique, e que ela se dedique àquilo, ela pode desenvolver altas habilidades e se tornar alguém de excelência naquilo que ela faz.
Em que momento está relacionada com a superdotação?
As nomenclaturas hoje estão relacionadas. Se convencionou que os dois se apresentassem juntos. Porém, a superdotação é um funcionamento neurodivergente, que pode se apresentar em alguém com altas habilidades, ou até mesmo um superdotado não ter altas habilidades, por não ter um ambiente propício a desenvolver o potencial que ele carrega. Em muitos momentos estão relacionados, mas também podem aparecer de forma individual. E quando a gente fala de altas habilidades e superdotação, a gente fala de um funcionamento neurodivergente, não é um transtorno, mas traz comportamentos muito semelhantes ao autismo, ao TDAH, e a outros transtornos do neurodesenvolvimento, porque ele traz uma questão comportamental. A superdotação fala de uma potencialidade e de um funcionamento que é muito intenso, um envolvimento com uma tarefa que gosta muito e se sobressai. Intensidade na curiosidade, querer aprender cada vez mais sobre um assunto novo ou algo que gosta. É também o QI elevado, só que ele é medido por uma série de ferramentas da psicologia, mas o QI não se estende para a superdotação em outras áreas. A gente consegue observar que uma pessoa desempenha muito bem uma atividade, mas nós não temos uma ferramenta que mensure. Então ainda temos muito o que estudar e desenvolver sobre esses temas, mas precisamos primeiro falar sobre, pois acredito que ainda há muitos superdotados na nossa cidade que ainda não foram identificados, que muitas vezes só se sentem diferentes.
Há subnotificação nos casos diagnosticados?
Sim, há muitas pessoas que, junto com a superdotação, também apresentam algum outro transtorno, como o TEA e o TDAH, e acabam tendo apenas um diagnóstico. Porque, como não se fala muito sobre superdotação e como, no senso comum, ela está muito ligada à genialidade, quando na verdade a pessoa pode ainda não ter encontrado o lugar onde ela vai se destacar e não tem um ambiente favorável para isso. Representa, em média, 5% da população mundial. Ainda é um número muito baixo porque ainda precisa se desenvolver muito estudo e muita conscientização. Eles sempre existiram, mas não se falava sobre isso, não se tinham tantas tecnologias para levar informação, tantas ferramentas para fazer o diagnóstico. A subnotificação leva muitas dificuldades para a vida daquela pessoa.
Como identificar?
O ideal é que se faça uma avaliação, se submeta a uma bateria de testes que vão identificar padrões de comportamento, como é o funcionamento cognitivo, emocional, e, a partir disso, nós conseguimos chegar nesse diagnóstico mais claro. É um processo que a pessoa pega algumas informações, se identifica, mas não chega a ir até uma avaliação formal. Essa avaliação trará muitos benefícios, porque, através de um laudo, pode-se conseguir um ambiente muito mais adaptado através da orientação de famílias e da escola, no caso das crianças.