Cultura organizacional como chave para reerguer a tradição educacional

Raízes e Propósitos

Cultura organizacional como chave para reerguer a tradição educacional

Carlos Santo reconstruiu a escola de mais de 130 anos com gestão compartilhada e aposta em identidade e pertencimento

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Cultura organizacional como chave para reerguer a tradição educacional
O professor Carlos Santo comanda o colégio desde janeiro de 2004 (Foto: Gabriel Leão)

Prestes a fechar as portas em 2003, o Colégio Gonzaga reconstruiu sua história a partir de uma nova gestão, de uma cultura organizacional sólida e de um grupo de gestores com poder de decisão compartilhado. De um cenário com apenas 550 alunos na época, a escola encerra 2025 com mais de 1,7 mil estudantes. Foi há duas décadas que o Gonzaga iniciou uma das mais profundas transformações vivenciadas em seus 130 anos de existência.

Conforme lembra o diretor do colégio e professor, Carlos Santo, na época a instituição enfrentava dificuldades administrativas e financeiras que colocavam em risco sua continuidade. O cenário exigia ação imediata e, sobretudo, coragem para recomeçar.

“Sabíamos que seria um processo lento e difícil, mas absolutamente possível. A reconstrução começou passo a passo, reorganizando a gestão, restabelecendo a credibilidade e devolvendo o pertencimento ao Gonzaga.”

Na avaliação de Santo, um dos principais responsáveis pelo sucesso do projeto foi a criação de uma nova equipe, formada totalmente do zero. A retomada também envolveu reorganizar contas, rever processos, qualificar equipes e restabelecer uma estrutura mínima para garantir o funcionamento diário.

“Ao mesmo tempo em que lidávamos com dívidas e adequações físicas urgentes, a nova gestão precisava projetar um futuro sustentável. Esse movimento reuniu educadores dispostos a fazer parte de uma reconstrução histórica”, destaca.

Criação do novo projeto pedagógico

Liderando a área pedagógica, a professora Adriana Rosinha recorda com entusiasmo os primeiros anos de trabalho na retomada.

“Começamos literalmente do zero. A escola precisava se reinventar. A equipe se formou com profissionais que acreditavam na reconstrução do colégio e estavam dispostos a enfrentar qualquer obstáculo. Se fosse preciso escalar parede, a gente escalava. O objetivo era fazer dar certo.”

Ainda nos primeiros meses, definiu-se que a reconstrução não poderia ser apenas administrativa: a mudança deveria ser também pedagógica. Formou-se, então, um núcleo de trabalho dedicado à criação de um novo projeto educativo, capaz de refletir a realidade daquele momento e projetar uma escola alinhada ao futuro.

Surgia ali a base do que, anos depois, consolidaria o Gonzaga como uma instituição reconhecida por sua coerência teórica, inovação metodológica e forte cultura formativa. Cinco pilares estruturaram o novo projeto — e seguem sendo trabalhados até hoje.

Pilares estruturantes

O primeiro deles, segundo Adriana, foi a clareza na definição do projeto educacional. O colégio adotou a formação integral como eixo norteador. “A escola assumiu a formação voltada para a construção de um sujeito pleno, capaz de desenvolver suas potencialidades de maneira ampla”, explica.

Adriana lembra que, muito antes de o tema ganhar destaque nas diretrizes nacionais, o Gonzaga incorporou ao currículo a perspectiva das inteligências múltiplas, segundo pilar considerado fundamental na retomada. “Essa escolha nos permite compreender diferentes modos de aprender, valorizando os diversos talentos e ritmos dos estudantes”, pontua.

Outro movimento estratégico foi a adoção de metodologias ativas, que ampliaram o protagonismo estudantil, a pesquisa como princípio educativo, a interdisciplinaridade e a construção crítica do conhecimento. “O objetivo era formar alunos investigativos, capazes de interpretar o mundo, formular hipóteses e refletir sobre seu papel social”, relembra.

Como quarto pilar — e considerado uma das principais viradas por Santo — veio a formação docente permanente. O diretor destaca que a cultura organizacional do Gonzaga ganhou força a partir do momento em que os professores deixaram a sala de aula e passaram a assumir funções de gestão.

“Essa foi a minha estratégia, porque eu, como professor, sempre acreditei nos colegas. Sempre disse que, para comandar professores, é preciso ser professor, porque é uma profissão diferente”, comenta.

Nos primórdios, escola recebia apenas meninos (Foto: Reprodução)

Para Adriana, esse foi um dos pilares mais exigentes, já que não existe transformação pedagógica sem ter o professor como parte central do processo. “Criamos uma cultura de formação contínua, intensa e profunda, para que o professor também se entendesse como sujeito em desenvolvimento.”

Fechando os pilares responsáveis pela reestruturação do Gonzaga, veio a construção de uma cultura escolar forte. Aos poucos, valores como respeito, pertencimento, ética, solidariedade e compromisso coletivo passaram a integrar a identidade do colégio. “A escola tornou-se um espaço onde o aluno é ouvido, acolhido e reconhecido como protagonista de sua formação”, afirma.

Crescimento, consolidação e identidade

Os resultados desse processo começaram a aparecer gradualmente, ano após ano. A evolução nos índices, o aumento nas matrículas, o fortalecimento do vínculo com as famílias e a formação de uma comunidade coesa demonstraram que o caminho estava correto.

A cultura escolar — hoje um dos grandes diferenciais do Gonzaga — não nasceu de um único movimento, mas de uma sequência de decisões consistentes ao longo dos últimos vinte anos. “Uma cultura leva tempo. Sabíamos o que queríamos, tínhamos uma convicção teórica e prática de como fazer, mas havia toda uma caminhada pela frente. E eu acho que o grande diferencial foi persistir”, afirma a coordenadora.

Segundo Adriana, essa cultura se manifesta no cotidiano: no acolhimento aos estudantes, na forma como conflitos são mediados, no cuidado com a formação emocional e no desenvolvimento de habilidades sociais. “É um ambiente onde professores e estudantes se reconhecem mutuamente, com um sentimento de pertencimento evidente, confirmado nas conversas com alunos e famílias”, diz.

Legado construído com persistência

Ao olhar para trás, Adriana resume o sentimento da equipe: orgulho. “Passamos por inúmeros desafios, mas nunca desistimos. Construímos uma escola de identidade forte, com educadores resilientes e comprometidos. O coração bate forte quando pensamos em tudo o que conquistamos e no que ainda podemos conquistar.”

(Foto: Reprodução)

O diretor compartilha esse sentimento, reforçando que a reconstrução do Gonzaga foi feita com transparência, responsabilidade e profundo compromisso com a comunidade. “Hoje o sentimento é de realização, porque o que criamos foi feito a muitas mãos. É algo que precisamos manter. Cada vez mais, as pessoas são fundamentais na história”, define.

Após mais de duas décadas de trabalho, o colégio vive um novo momento, sustentado por um projeto pedagógico consistente, uma gestão sólida e uma cultura escolar que valoriza vínculos, experiências e formação humana. Para Santo, o Gonzaga de hoje é resultado da coragem e das escolhas iniciadas em 2004 — escolhas que também serão levadas a novos espaços que passam a integrar o colégio.

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