Há algumas semanas, eu conversava com algumas colegas na praça da Faculdade de Direito sobre filhos e casamento. Algo que, para mim, soa como muito distante — longe do tipo “brincando de noiva com um lençol na cabeça” quando criança, de tão longe. Falei que planejava viajar muito, conhecer o máximo do mundo que conseguisse, todas as culturas que desse. Aprender outras línguas, comer pratos diferentes e até passar perrengues em outros países. E isso tudo antes de sequer pensar em casar e ter filhos.
Então fui questionada:
— Mas com que idade tu pretende ter filhos, então?
— Ué, a idade normal. Uns trinta e poucos.
Recebi uma reação colossal. Fui literalmente julgada em praça pública:
— “Mas tu vais cuidar de filhos velha? Tu podes viajar depois! Aproveita a vida depois que eles crescerem!”
Algo que antes estava longe nunca esteve tão dentro da minha cabeça. Mas, teimosa como sou, comecei a fazer as contas em voz alta com o grupo:
— Gurias, temos 21, 22, algumas 24. Estamos na metade do curso, que tem seis anos. A maioria aqui quer passar em concurso. Até achar o príncipe encantado, passar em um concurso que pague o valor de um pacote de fralda e o mínimo para se manter, vocês já teriam que estar, no mínimo, procurando o pai dessa criança.
O silêncio e o aborrecimento tomaram conta da roda. Tanto o meu quanto o delas, na verdade. O meu, por ter planos de ter filhos “velha” demais; o delas, por perceberem que não seria tão simples assim como era na época dos nossos pais. Olhei para o lado e os meninos estavam discutindo o jogo de futebol que teria no final de semana, e nós fazendo cálculos mentais sobre a biologia do corpo feminino, a economia do país, os futuros pais dos nossos filhos…
Comecei a minha pesquisa de campo, perguntando para todos os meus amigos com que idade pretendiam ter filhos e cheguei a apenas uma conclusão: percebi que essa era uma preocupação que só mulheres têm. Os homens têm o privilégio de apreciar toda a sua juventude, dar a volta ao mundo duas vezes e, quando cansarem, pensar em filhos e casamento — e ainda serem considerados senhores charmosos na terceira idade.
A impressão que eu tenho é que, para nós, mulheres, quando nos tornamos mães, somos eternamente mães de alguém e nunca mais um indivíduo. E isso não acontece com os homens. Eu amo a minha individualidade e gostaria de preservá-la pelo máximo de tempo possível e, se desse, mesmo quando me tornasse mãe.