Na última semana, a servidora pública Clenir Ione Pereira, de 73 anos, que atua no setor de expedição da Secretaria de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana (SGCMU), completou cinco décadas de exercício da função. Ele é a servidora mais antiga em atividade na prefeitura.
Como você ingressou como servidora na prefeitura?
Eu estou na prefeitura desde agosto de 74. Na realidade, eu entrei para a prefeitura no fim de outubro de 73. Mas eu estava grávida e precisava trabalhar. Meu marido ganhava pouco. A gente veio de Pedro Osório. Como eu estava grávida, era difícil arrumar um serviço. Eu tinha uma prima que trabalhava na prefeitura. Falei pra ela: “se tu souber de algum serviço, eu preciso trabalhar”. Uma secretária ia sair de férias e o secretário dela me chamou para ficar os 30 dias das férias. Quando ela voltou, ele disse: “gostei do teu trabalho”. Como era verão, o pessoal estava saindo de férias, então comecei a substituir cada um, 30 dias num setor, 30 dias no outro. E fui até abril. Eu esperava o nenê para maio. Aí ele disse: “agora não dá mais pra ficar contigo, porque tu vai ter o nenê”. Eu sabia que tinha que parar, mas eu gostei tanto de trabalhar que eu não aceitava ter que parar. Mas parei, ganhei a minha filha. E eles me chamaram para eu fazer uma visita, levar a filha para conhecer. Quando eu cheguei lá, tinha uma colega que ia sair de licença. O secretário perguntou: “tu queres voltar?” Eu disse: “quero!” Trabalhei 15 dias e depois fui contratada.
O que motivou você a seguir trabalhando nessa função?
Na época eu precisava muito mesmo. No serviço público, eu ia ter segurança para atender as necessidades da minha filha. E depois eu gostei muito de trabalhar, porque para mim a prefeitura de Pelotas era uma coisa de outro mundo. Eu não conhecia nada. Pelotas era só passeio até então. E comecei a conhecer os ambientes, o serviço, fazer amizades. Eu sempre fui tratado com muito carinho por todo mundo, prefeitos, secretários, chefes, colegas. E não é que eu faço o que eu gosto, eu gosto do que eu faço. Seja o que for. E até hoje eu faço o meu serviço.
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou nesse período?
Eu nunca fui ligada à política, e a gente teve secretários e chefes de partidos diferentes. Mas eu vou pela pessoa, não pelo partido. Não tenho queixa de trabalho, sempre correu tudo tranquilo. Na minha vida fora da prefeitura, eu fui casada, tive dois filhos, depois me divorciei, e criei os filhos sozinha. Por isso, mais eu me apegava ao serviço, por necessidade. Além disso, eu tinha prazer em fazer o meu trabalho. O que me deixa mais feliz é atender as pessoas e elas saírem satisfeitas. É uma coisa que me faz bem. E outra coisa importante: quando eu saio aqui na porta, eu desligo da prefeitura. Por que se não, a gente não descansa. A cabeça precisa descansar.
Quais conselhos você daria para os mais jovens que ingressam na prefeitura hoje?
Eu lido com muita gente jovem aqui, estagiários e tudo. O conselho que eu daria é a pessoa, independente de salário – que no serviço público municipal o funcionário não é valorizado, no meu ponto de vista -, fazer o seu trabalho, ou vai embora procurar uma outra oportunidade. Às vezes dizem: “eu ganho pouco, não preciso fazer tanta coisa”. Não é assim. Eu sempre digo para os estagiários, independente do setor que tiverem, para aproveitarem, porque é uma experiência que vai servir para depois.