Teste rápido para sair da linha vermelha

CORPO E MENTE

Teste rápido para sair da linha vermelha

Rio Grande e Pelotas concentram as maiores taxas de novas infecções na região sul

Por

Teste rápido para sair da linha vermelha
Busca por testagem ainda gera desconforto em parte da população (Foto: Jô Folha)

Com 45 anos de avanços científicos desde o início da epidemia de HIV e AIDS no Brasil, ainda é nítido o desconforto de quem busca realizar o teste. Na ação do Dezembro Vermelho organizada pela Secretaria de Saúde no centro de Pelotas, o vai e vem discreto diante da tenda deixava evidente o que persiste ao longo das décadas: o estigma. Entre os atendimentos, chamou atenção o de uma mulher de 61 anos que procurou o exame antes do casamento. O noivo, de 68, também realizou a testagem, a pedido dela. O casal celebra o cuidado mútuo, mas ainda prefere preservar a identidade. “Queremos ter uma vida sexual plena e saudável”, contou a noiva.

Mesmo com campanhas anuais, distribuição de insumos e ampliação das estratégias preventivas, os números continuam preocupantes. Segundo o Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2025, Rio Grande subiu da 25ª para a 15ª posição nacional em número de novos casos. Pelotas ocupa a 39ª colocação, com 166 diagnósticos registrados somente neste ano, uma média de 15 novos casos por mês. Porto Alegre lidera o ranking nacional.

Para enfrentar o cenário, o infectologista Guilherme Brito, do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), defende ações que aproximem a população dos serviços de diagnóstico e prevenção. Apesar dos avanços significativos no tratamento, Pelotas segue em posição de alerta. “Pelotas e Rio Grande concentram o maior número de novas infecções pelo HIV na região sul, e essa tendência se mantém”, afirma.

Embora tenha havido oscilações e até quedas pontuais nos registros anuais, o município permanece entre os que mais demandam ações intensificadas. “Estamos atrás de Canoas, Porto Alegre e Rio Grande, mas continuamos entre as cidades com maior número de casos no Estado. Por isso é essencial trazer o tema para a rua e ampliar o acesso ao diagnóstico”, completa Brito.

Secretaria da Saúde promove ação do Dezembro Vermelho no Mercado Central (Foto: Jô Folha)

No Serviço de Atendimento Especializado (SAE), o psicólogo clínico e professor da UFPel Hudson de Carvalho reforça a importância de acompanhar quem interrompe o tratamento. “Hoje temos 2.710 usuários cadastrados para retirada de medicamentos e realização de exames. Muitos vêm da região, buscando também discrição, porque o estigma ainda pesa muito”, explica.

Segundo ele, há um contingente significativo de pessoas que vive com HIV sem saber. “Estudos da região metropolitana de Porto Alegre indicam que uma em cada 50 pessoas vive com HIV. Aqui, não deve ser muito diferente. O número real pode ser bem maior que o registrado”, alerta.

Estigma ainda afasta da testagem

Durante a ação de Pelotas, muitos pedestres desviavam o olhar e seguiam adiante. Para a coordenadora da Rede de Doenças Crônicas Transmissíveis Prioritárias (RDCTP), Carol Félix, essa reação sintetiza um desafio que permanece. “O preconceito ainda é uma barreira forte. Não é só o medo do que os outros vão pensar. É o medo do diagnóstico e do estigma associado”, explica. Para ela, afastar-se da testagem significa atrasar o cuidado, impedir o início rápido do tratamento e perder oportunidades de orientação sobre prevenção.
O teste rápido oferecido nas ações fica pronto em cerca de 20 minutos. Para resultados reagentes, o encaminhamento ao SAE é imediato. Para negativos, são apresentadas as alternativas de prevenção hoje disponíveis.

Prevenção ampliada

Um dos aspectos que mais surpreendem quem procura a testagem é a variedade de métodos. Além das camisinhas interna e externa, amplamente distribuídas, o SUS oferece:

PrEP (Profilaxia Pré-Exposição)

  • Uso diário de medicamento para prevenir o HIV.
  • Indicada para pessoas sexualmente ativas que enfrentam períodos de maior vulnerabilidade ou dificuldade no uso consistente de preservativos.

PEP (Profilaxia Pós-Exposição)

  • Tratamento por 28 dias após situações de risco, como relação sem preservativo, violência sexual ou acidentes com perfurocortantes.
  • Deve ser iniciada em até 72 horas.

“O teste é a porta de entrada”, reforça Brito. “Se positivo, iniciamos imediatamente o tratamento. Se negativo, conversamos sobre qual método preventivo combina com a realidade da pessoa. Não existe receita única”.

Tratamento gratuito e eficaz

Com os medicamentos antirretrovirais atuais, o HIV é uma condição crônica controlável. O tratamento é gratuito e, quando seguido corretamente, reduz a carga viral a níveis indetectáveis, tornando a transmissão impossível: conceito conhecido como I=I (Indetectável = Intransmissível). Para as equipes de saúde, este Dezembro Vermelho reforça a urgência de trazer o HIV ao debate cotidiano, dentro das famílias, escolas, relacionamentos e espaços comunitários.

Como ocorre a infecção

Especialistas do SAE e do Programa de ISTs explicam que as formas mais comuns de transmissão são:

Relação sexual sem preservativo

  • Maior risco: relação anal
  • Risco intermediário: vaginal
  • Baixíssimo risco: sexo oral (quando há feridas ou sangramentos na boca)

Contato com sangue contaminado

  • Compartilhamento de seringas e materiais perfurocortantes
  • Acidentes ocupacionais

O que NÃO transmite: beijo, abraço, suor, saliva, talheres, copos, piscina, banheiro, insetos ou convivência cotidiana.
A prevenção hoje é combinada e personalizada, incorporando testagem regular, métodos medicamentosos e preservativos.

SAE em números

  • 6.445 pessoas já cadastradas desde 1998
  • 2.710 pacientes ativos para retirada de medicação
    (421 estão há mais de 90 dias sem buscar)
  • 795 cadastros de PrEP
  • 135 retiradas de PrEP em novembro, sendo 35 novos pacientes
  • 53 retiradas de PEP no mesmo período
  • 99 pacientes coinfectados HIV/tuberculose desde 2023
  • 34 coinfectados em acompanhamento
  • 16 crianças e adolescentes vivendo com HIV
  • 38 crianças recebem fórmula infantil por impossibilidade de amamentação materna

Onde buscar testagem e prevenção em Pelotas

PrEP Itinerante – 14 de dezembro

Presença do projeto PositHIVes durante a 24ª Parada da Diversidade, a partir das 14h, no Largo do Mercado Central.

CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento

  • Segunda a sexta, das 13h às 17h30min
  • Centro de Especialidades, Voluntários da Pátria, sala 407
  • Testagem, início de PEP e PrEP

UPA e Pronto-Socorros

  • Atendimento 24h para início de PEP

SAE – Serviço de Atendimento Especializado

  • Acompanhamento e retirada de medicação

TelePrEP Pel

  • Teleconsulta
  • WhatsApp: (53) 9 9162-0416

Acompanhe
nossas
redes sociais