Dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira revelam que 80,5% dos moradores de favelas e comunidades urbanas de Pelotas vivem em ruas sem pavimentação. O percentual equivale a mais de 29 mil pessoas. Nas 36 áreas periféricas analisadas, predominam trechos sem calçadas ou passeios e também sem bueiros ou bocas de lobo, entre outras carências de infraestrutura.
O estudo sobre as características urbanísticas do entorno dos domicílios abrangeu as mais de 36,6 mil pessoas residentes em áreas consideradas favelas ou comunidades. O dado com a maior discrepância socioespacial em comparação ao restante do território do município é a falta de pavimentação.
Enquanto 73% dos moradores de outras áreas vivem em ruas pavimentadas ou próximas a vias asfaltadas, nas favelas esse percentual cai para apenas 19%.
Em relação à drenagem urbana, os números igualmente mostram deficiências. Quase 69% dos entrevistados — cerca de 25 mil pessoas — moravam em trechos sem bueiros e bocas de lobo. Nas demais regiões de Pelotas, menos da metade — cerca de 30% dos moradores — enfrentava essa condição.
Já aqueles que viviam em vias com essa infraestrutura chegavam a 68%, enquanto nas favelas o índice caía para 41%.
Outro recorte divulgado pelo Censo é a presença de calçadas e passeios. Nas favelas, 52% dos moradores circulam em vias sem essa infraestrutura urbana. No restante da cidade, o percentual é três vezes menor, de 17%.
Realidade ressaltada pelos dados
A chefe da Agência do IBGE em Pelotas, Tatiana Gautério, destaca que os dados demonstram de forma concreta as diferenças urbanísticas, muitas vezes já conhecidas de forma empírica pela população.
“É para isso que serve o IBGE: para mostrar a realidade nua e crua, trazendo dados estatísticos, através da ciência, estampando as diferenças sociais e as discrepâncias entre as diversas classes. Demonstra e comprova, com informações demográficas e econômicas, o cenário dos municípios”, diz.
Disparidade clássica
A professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Joseane Almeida, enfatiza que as disparidades urbanísticas reveladas pelas informações demográficas compõem um cenário clássico.
“Os investimentos urbanísticos nas áreas centrais tradicionalmente são maiores do que nas zonas periféricas.”
A arquiteta critica a disponibilidade de recursos para pavimentação, principalmente com asfaltamento, em ruas que muitas vezes não teriam necessidade, na visão dela.
“Ou porque já têm pavimento — em Pelotas se coloca asfalto sobre o paralelepípedo, que é bom e tradicional — ou porque não são ruas por onde passam ônibus.”
Sobre a falta de bueiros e bocas de lobo nas áreas de favelas, o que aumenta a propensão a alagamentos, Joseane explica que, em grande parte dessas localidades, predominam as valetas.
“O bueiro e a boca de lobo existem onde há tubulação de drenagem, e ainda temos muitas valetas.”
Confira os indicadores das 36 localidades consideradas como favelas ou comunidades urbanas em Pelotas
- Domicílios, por via pavimentada no entorno
Em favelas
Existe: 19,4%
Não existe: 80,5%
Fora de Favelas
Existe: 73%
Não existe: 26,3%
- Domicílios, por bueiro ou boca de lobo no entorno
Em favelas
Existe: 41,2%
Não existe: 58,72%
Fora de Favelas
Existe: 68,7%
Não existe: 30,5%
- Domicílios, por calçada ou passeio no entorno
Em favelas
Existe: 47,6%
Não existe: 52,3%
Fora de Favelas
Existe: 82%
Não existe: 17,2%
- Domicílios, por via sinalizada para bicicletas no entorno
Em favelas
Existe: 2,06%
Não existe: 97,9%
Fora de favelas
Existe: 6,7%
Não existe: 92,6%
- Domicílios, por rampa para cadeirante no entorno
Em favelas
Existe: 13,26%
Não existe: 34,41%
Não declarado: 52,3%
Fora de favelas
Existe: 19,8%
Não existe: 62,2%
Não declarado: 17,8%
- Domicílios, por ponto de ônibus ou van no entorno
Em favelas
Existe: 13,1%
Não existe: 86,8%
Fora de favelas
Existe: 18,6%
Não existe: 80,6%
