O fim da 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30, expõe um desalinhamento claro entre teoria e prática, entre emergência e ação e entre discurso e efetividade. Por dias, lideranças globais discutiram, debateram, concordaram, discordaram, alinharam, realinharam e, no fim, o documento trouxe um certo clima de frustração. Não há um claro caminho para temas essenciais, como a definição de um caminho para abandonar combustíveis fósseis e fica a impressão de que a turma, em geral, prefere muito mais falar do que fazer.
A ironia de, por exemplo, emitir uma carta reclamando do calor durante um debate sobre mudanças climáticas não foi percebida por nenhum deles, pelo visto. Mais uma vez, fica claro que, apesar do discurso ambiental pegar bem e vender bem, o interesse econômico prevalece. Aliás, as falas bem elaboradas, cheias de boas intenções, aspas de efeito e propostas fantasiosas de lideranças globais raramente, de fato, viram em ação. É um tema que na prática é deixado de lado sempre que possível. Era previsível e soava utópico esperar algo muito diferente disso, mas diante da realidade batendo na porta, fica bem claro que as coisas não vão avançar da forma que seria necessário para reverter na prática ao menos parte das mudanças climáticas.
Mais uma vez, ficou para outra hora definir atitudes realmente impactantes para lidar com o clima. Talvez para o ano que vem, talvez para o próximo século. Mas o fato é que, enquanto as lideranças não pensarem em iniciar ações práticas e efetivas e mantiverem-se na mirabolância, nada vai andar. Enquanto isso, seguiremos sofrendo com enchentes, como as vistas há poucos meses no Estado, com ciclones, como o visto há poucas semanas no Paraná, ou com temporais devastadores, como o visto há poucos dias em Erechim.
Enquanto ficarmos apenas no discurso e quase nada na prática, não vamos ir em frente e pessoas seguirão morrendo. Se as lideranças talvez optassem por pelo menos definir pequenas ações para o período de um ano, não haveria esse clima agridoce em um evento que foi muito bonito no papel, mas soou como mais uma daquelas reuniões de trabalho em que fica decidido que ali na frente decidiremos algo.