No Papo da Hora, na Rádio Pelotense, a conversa da tarde de ontem foi sobre moda, consumo e sustentabilidade. Mary Reisser, há 20 anos à frente do Brechó Volta ao Mundo, contou sobre o crescimento do setor, o perfil das clientes, a mudança geracional e a importância de repensar hábitos de consumo.
De que forma a sustentabilidade está presente no dia a dia do brechó?
A gente traz isso para o dia a dia. É um trabalho bem bacana, porque prolongamos a vida útil das peças. Muita coisa iria parar em aterro, no lixo. A gente dá uma sobrevida a essas roupas, e isso é ótimo para o meio ambiente.
Como você viu as mudanças do comportamento do público em duas décadas?
Aumentou bastante a procura. A geração X é mais preconceituosa com brechó. Já a geração Z aderiu muito. De quatro anos para cá o público mudou bastante: mais jovem, mais consciente, preocupado não só com o bolso, mas com o meio ambiente e com o que vai deixar para o futuro.
O seu começo no brechó foi motivado por essa consciência ambiental?
Foi. Acho muito bacana. Não só o meu brechó, mas todos os brechós deixam uma contribuição legal para as futuras gerações. As peças ficam paradas nos armários, estragam, e a gente fica ali pedindo para o pessoal desapegar, trocar com amigas, trazer para o brechó. Esse apelo é diário.
Qual é o seu público hoje?
Vai da adolescente à mulher madura. Mas aquela mulher madura antenada na sustentabilidade. Hoje o tema está em alta, a mídia fala bastante sobre isso, então ficou mais fácil. Mas eu diria que o público-alvo principal é de 30 a 50 anos.
Como você enxerga a característica do brechó de oferecer peças exclusivas e com boa qualidade?
No brechó se tem o look exclusivo e a qualidade de tecido. O fast fashion não tem durabilidade: tu usa, lava e descarta. A gente não diz para a pessoa não comprar roupa nova, mas que faça escolhas mais conscientes.
Como funciona o seu acervo de roupas?
Eu trabalho com consignação. O cadastro mínimo é de 10 peças. A pessoa traz e fazemos a curadoria. Se for o nosso perfil, cadastramos. Após 60 peças, passamos o valor com a nossa comissão. Com a venda, a partir de duas peças a gente já começa a pagar. Tem cliente que pega em crédito, outras preferem receber.
E a relação com o fast fashion pode ser uma concorrência?
Olha, eu condeno a compra sem qualidade. Mas comércio é comércio, não vou ser antiética. Para o meio ambiente, é uma catástrofe. O fast fashion usa muitos recursos e não dura nada. Sou totalmente a favor da compra consciente e da qualidade, não da quantidade.
A gente tem visto muitos brechós em Pelotas. Isso lhe preocupa ou é positivo?
Acho ótimo. Quanto mais brechós, melhor. O cliente ganha, o meio ambiente ganha e a gente melhora nosso trabalho com a concorrência. Eu faço uma curadoria bem legal, tenho duas funcionárias e estou para contratar mais uma. Acho que todos têm que buscar uma pegada sustentável e fazer algo diferenciado.
São Paulo é um mercado forte de moda. Traz inspiração de lá?
Muita. Eu compro para mim, uso e depois coloco no brechó de novo. Vou renovando o guarda-roupa sempre na sustentabilidade. Hoje 90% do meu guarda-roupa é de brechó. Só compro algo novo quando realmente precisa ou está muito em promoção.
Para quem ainda tem receio de comprar em brechó, qual é o recado?
Que abra a mente. As pessoas têm muito preconceito. Mas se você compra carro usado, casa usada… por que não roupa usada? No brechó você economiza dinheiro e encontra qualidade: linho, seda, algodão pima, viscose, tecidos naturais, tecnológicos, marcas diversas. Tem um mundo de oportunidades. Convido todos a conhecerem o Volta ao Mundo, na 15 de Novembro, 1.081, e todos os brechós que puderem. Todo mundo ganha com isso.