A Rádio Pelotense ouviu mais um dos pré-candidatos ao governo do Estado. Na conversa, Edegar Pretto, do PT, falou sobre ampliar o campo de alianças em torno de Lula, aliviar o peso dos pedágios na metade sul e fazer o Rio Grande finalmente cumprir os 12% constitucionais em saúde.
No tabuleiro de 2026, Pretto se vende como nome consolidado dentro do PT, mais experiente do que em 2022 e agora com o crachá de presidente da Conab. Mas a própria fala entrega a equação: o PT sozinho não chega ao Piratini, precisa de um “campo democrático e popular” maior do que o de quatro anos atrás. PSOL, Rede, PCdoB e PV são quase automáticos. O nó está em partidos como PDT e PSB, que também se acham grandes o bastante para ter cabeça de chapa. Juliana Brizola, citada com cuidado por ele, é um exemplo disso. Pretto fala em frente ampla, em todo mundo junto já no primeiro turno, mas, por baixo, a conta é outra: cada sigla acha que vale mais do que realmente entrega em voto. O desafio é transformar essa conversa em acordo.
Quando o debate desce para a Zona Sul, o discurso sobe um pouco de temperatura. Pretto escolheu um símbolo que pesa no bolso de quem vive aqui: a BR-116 e a BR-392. Celebra a portaria que abre caminho para uma nova concessão, exaltou o fim do contrato com a Ecovias Sul e reforçou que, a partir de março, o DNIT assumirá as estradas sem pedágio até o novo leilão. A notícia cai bem para quem paga caro na cancela. Fica faltando, porém, quem paga a conta da manutenção nesse intervalo e que garantia existe de que o novo modelo seja menos pesado do que o atual.
Na saúde, a linha é parecida. Pretto identifica corretamente o sentimento de frustração de quem ouviu, por anos, que bastava vender estatais para sobrar dinheiro para o básico e não viu isso acontecer no posto de saúde nem na fila do hospital. A resposta dele é um número: cumprir a Constituição e aplicar 12% do orçamento estadual em saúde, com avaliação transparente de hospitais e integração entre redes municipal, estadual e federal. Cenário ótimo para prefeito, gestor de hospital e usuário do SUS. A questão é entender de onde sairá esse dinheiro: reorganização de prioridades, corte em outras áreas, aumento de receita? Todo governo promete 12%. Poucos entregam.
Orçamento carimbado
A ação civil pública do Ministério Público contra as emendas impositivas em Pelotas encosta em escolhas políticas que, nos bastidores, já vinham causando constrangimento. Quando o MP questiona o modelo que obriga o município a reservar uma fatia fixa do orçamento para emendas dos vereadores, está dizendo, em outras palavras, que talvez nem tudo o que foi carimbado como “prioridade” mereça esse selo, ainda mais quando, ao lado de demandas óbvias de infraestrutura e serviços, aparecem cifras generosas que garantem a organização de festas, encontros específicos e obras bem localizadas em estruturas comunitárias.
As emendas nasceram com um discurso nobre: permitir que o vereador, mais próximo do território, corrija distorções do planejamento central. Na prática, porém, o que se viu foi a construção de um orçamento paralelo, onde cada gabinete garante seu pedaço de visibilidade e transfere para a prefeitura a tarefa de executar e, depois, se explicar. É nesse ponto que a ação do MP joga luz: até que ponto o município pode seguir engessando milhões em decisões pulverizadas, enquanto a gestão alega falta de recursos? E até onde vai a responsabilidade de quem carimba a emenda e depois se coloca apenas como “autor do pedido”, sem assumir o ônus de justificar porque aquele recurso foi para um grande encontro de motociclistas ou para a reforma da churrasqueira de uma associação de bairro?
Nos bastidores, o efeito já é visível. Tem vereador revisando lista de entidades, perguntando para assessor se “não tem nada que possa dar problema” e torcendo para não virar exemplo negativo na fala do promotor. Na prefeitura, há quem enxergue a ação como chance de recuperar margem de manobra na Lei Orçamentária sem comprar briga direta com a Câmara: deixa que o Ministério Público faz o papel de vilão. No fim, a disputa não é só sobre festas, motos ou churrasqueiras, e mais sobre o sentido das emendas: elas vão continuar sendo um atalho para micropolítica de ocasião ou serão, enfim, tratadas como parte séria do orçamento público, sujeita ao mesmo grau de escrutínio que a população exige quando falta remédio no posto ou ônibus no horário?