“Às vezes, a pessoa só toma consciência da violência quando encontra sua própria experiência retratada”

Abre aspas

“Às vezes, a pessoa só toma consciência da violência quando encontra sua própria experiência retratada”

Janete Flores (E) – formada em Música pela UFPel, compositora, artista plástica e escritora

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Atualizado quarta-feira,
19 de Novembro de 2025 às 13:17

“Às vezes, a pessoa só toma consciência da violência quando encontra sua própria experiência retratada”
Janete Flores e Sá Biá apresentaram o manuscrito D'Lurdes, projeto de contos curtos (Foto: Reprodução)

Na última quinta-feira (13), no Beer Hostel, ocorreu o lançamento do manuscrito D’Lurdes. O projeto apresenta contos curtos — chamados de “histórias quase inventadas” — que servem como ponto de partida para rodas de conversa conduzidas por Janete, trazendo à tona temas relacionados às múltiplas formas de violência sofridas pelas mulheres.

O D’Lurdes expõe violências sutis, muitas vezes difíceis de reconhecer, mas presentes na rotina de muitas mulheres. Apesar da leveza estética, os conteúdos tratados são densos. É aí que a cantora Sabiá contribui, encerrando o encontro com um momento musical que ajuda a descomprimir o ambiente. Além disso, o projeto também ofereceu oficinas de pintura, teatro e conversas temáticas.

Tu acreditas que a literatura pode ajudar mulheres a identificarem situações de violência?
Janete Flores: Sim. A leitura de um conto escrito de forma leve, mesmo tratando de temas pesados, pode ajudar alguém a perceber que aquilo também acontece com ela. Às vezes, a pessoa só toma consciência da violência quando encontra sua própria experiência retratada de um jeito acessível, começando então a identificar os sinais do ciclo da violência.

Tu enxerga a música como parte essencial desse processo de acolhimento no projeto?
Sá Biá: A proposta chegou para que a gente celebrasse o momento final do evento. Pensando nisso, organizamos um repertório engajado criticamente, em sintonia com o movimento que o próprio D’Lurdes propõe. Reunimos canções de protesto, músicas do folclore latino-americano e MPB. Acredito que o nosso papel enquanto artistas é refletir sobre a realidade que nos cerca, mediando criticamente conteúdos que muitas vezes são difíceis de abordar — especialmente essas violências invisíveis ou mais sutis.

Já tiveram outros eventos nesse formato com vocês duas?
Janete Flores: Juntas, é a primeira vez. Mas no ano passado já realizei um evento semelhante, quando promovemos uma oficina de construção de cadernos. Cada participante saiu com seu próprio diário — uma forma simbólica de carregar aquele momento consigo.

Como vocês enxergam a importância de eventos que abordam essas problemáticas?

Sá Biá: É fundamental criar espaços de debate, especialmente dentro da cultura. Nós, artistas que estamos na periferia da empregabilidade, historicamente nos colocamos como mediadores desses temas. O repertório musical — com Secos & Molhados, Rita Lee — dialoga com períodos de contestação, como a ditadura militar, mas as opressões continuam existindo e se interseccionalizando. Por isso, o D’Lurdes é tão importante: reforça o papel da arte como dispositivo de mediação e reflexão social.

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