Com ampla experiência em empreendedorismo e inovação, o professor Artur Gibbon é docente na Universidade Federal do Rio Grande (Furg). Ele é diretor de Ambientes de Inovação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores, além de ter exercido o mesmo cargo na Rede Gaúcha de Ambientes de Inovação, entre 2020 e 2023. É coordenador do programa Inova RS para a Região Sul e atua na área de Administração com ênfase em Gestão de Custos e foi diretor do Parque Científico e Tecnológico do Mar (Oceantec).
Gibbon aborda a última reunião sobre o Grande Pacto da Inovação de Rio Grande, o qual reafirma o propósito do município em consolidar-se como protagonista da economia azul, tendo a inovação como eixo principal para orientar ações, investimentos e políticas públicas.
Como o programa vai funcionar?
Temos uma visão de futuro que foi estabelecida de ser uma referência internacional em economia azul. Para essa visão de futuro, construímos sete macro desafios: governança, talentos, empreendedorismo, comunicação e infraestrutura. Para cada um deles, trabalhamos com projetos que visam transformar e qualificar a cidade para que ela possa alcançar essa visão de futuro. Começamos em 2023, com 18 projetos e entregamos nove deles. Nós tivemos novas lideranças entrando, a prefeitura mudou, a reitoria da Universidade de Rio Grande mudou, a presidência da Câmara de Comércio mudou. Então, fizemos uma reunião da mesa para que possamos prospectar novos projetos para 2026.
O que é economia azul?
Primeiro, começamos falando das atividades econômicas ligadas à economia do mar, e elas são vastas. Temos turismo, toda a operação portuária, as startups de biotecnologia marinha, a energia renovável e os estaleiros. Temos atividades econômicas ligadas à economia do mar inclusive nas nossas universidades, na Furg, na UFPel e na UCPel. Para vocês terem uma ideia como isso é muito mais amplo, eu posso estar lá em Ijuí e plantar soja, e essa soja será escoada pelo Porto de Rio Grande para outro país ou Estado. Mesmo que uma cidade ou setor econômico não esteja ligado diretamente ao mar, ele faz parte desse mercado. Já a economia azul é um conceito novo que abrange todas essas atividades ligadas à economia do mar, mas com sustentabilidade.
Qual o papel da Furg nesse cenário?
A Furg tem o papel de indução, pois gera muito conhecimento, tem as startups, o Parque Tecnológico, a Incubadora Innovatio, os grupos de pesquisas e de pós-graduação – muitos deles são ligados direta ou indiretamente à Economia Azul. Nós temos uma outra instituição importante aqui na cidade, o APL Marítimo do Rio Grande do Sul – que eu também sou um dos diretores – que promove o desenvolvimento desse mercado.
Qual o papel de Pelotas nesse crescimento?
Há uma relação muito forte do programa – e do próprio setor – com Pelotas. Ela é a maior cidade da região e é extremamente importante para esse desenvolvimento de Rio Grande. Para terem uma ideia, o APL tem a prefeitura e as universidades Federal e Católica de Pelotas como associadas. O Pelotas Parque Tecnológico faz parte do nosso conselho. Às vezes, a comunidade não percebe, mas trabalhamos de forma muito integrada na geração de conhecimento, pesquisa e inovação. E esse grande pacto nasceu em 2022, quando o Rio Grande introduziu a Lei da Inovação – que está chegando em Pelotas.
Quais os aprendizados desses três anos com a Lei da Inovação?
Ela é ótima, porque permite fomentar ações que promovam esse desenvolvimento por meio da inovação. Rio Grande aprovou a lei em 2019. Só que, como muitas leis, nós construímos, promulgamos e não conseguimos executar. Então, revitalizamos em 2022 com um fundo de inovação, que temos também na perspectiva. Em Pelotas, teve uma dificuldade na aprovação; em Rio Grande, não tivemos isso, mas nossa lei foi pouco usada nos primeiros anos. Como a inovação é muito dinâmica, precisamos estar revisitando essas normativas para ver o que ainda faz sentido e como podemos ajustá-la para um novo momento. Mas eu saúdo essa vitória de Pelotas. Isso vai catapultar muito as ações de inovação que o município já vem empreendendo.
O manifesto conclama que a comunidade de Rio Grande atue de forma conjunta para potencializar a economia do mar. A sociedade está convencida ou ainda é um processo?
Esse é um dos macro desafios: a comunicação. Fazemos muita coisa, mas, por um motivo ou outro, não chegam na comunidade mais distante e, às vezes, nem na mais próxima. Há muitas coisas que acontecem na Furg que a comunidade universitária desconhece. Não é diferente com um grande pacto. Temos as nossas redes de comunicação, nos comunicamos muito, mas nem todo mundo sabe. E, evidentemente, ficamos muito restritos a uma bolha que trabalha ou que interage de alguma forma com a inovação. Mas precisamos romper essa bolha. Esse programa, em Rio Grande ou em qualquer cidade, precisa trazer qualidade de vida para as pessoas, porque fazemos inovação pelas pessoas, com as pessoas e para as pessoas.
O mar está sempre em movimento. Rio Grande está finalmente surfando nesse mar ou está tentando boiar lá no meio?
Estamos remando forte na onda. É difícil, somos uma cidade com uma história muito bonita, mas também com muitos desafios. Geograficamente, estamos longe dos grandes centros. Tivemos a indústria da pesca, depois decaímos. Agora tivemos os estaleiros, depois isso também decaiu. Então, há algumas dificuldades para vencer. A cidade não vai mudar de lugar. Por outro lado, temos uma infinidade de potências ligadas à economia azul. O mar não é só o oceano, mas toda a rede hídrica, como a Lagoa dos Patos com a qual nos conectamos com Pelotas e São Lourenço do Sul. Temos muito potencial e precisamos explorar ele. Por isso que o manifesto fala de construirmos juntos, porque precisamos estar todos juntos nessa virada.