O vice-governador Gabriel Souza foi o segundo entrevistado pela Rádio Pelotense na rodada com os nomes colocados para a sucessão do governo do Estado em 2026. Embora o MDB já o tenha anunciado oficialmente como pré-candidato, Gabriel preferiu não vestir o figurino eleitoral. Disse que ainda há um governo a conduzir e que ele e Eduardo Leite têm mais um ano e dois meses de mandato para cumprir. Aos poucos, porém, o discurso institucional deu lugar à política. Falou em continuidade e, inevitavelmente, em futuro.
No tom de gestor, evitou revelar detalhes, mas deixou escapar uma pista que movimenta bastidores: até o fim do mandato, segundo ele, virá um grande investimento para a Zona Sul. Não disse qual, nem onde, apenas garantiu que será marcante. A frase soou estratégica, tanto para manter o suspense quanto para reforçar o discurso de que o governo não esqueceu a metade sul do Estado, justamente aquela de onde vem o próprio governador Eduardo Leite. É, no mínimo, curioso. A região mais simbólica do governo ainda espera o grande gesto de desenvolvimento.
Na entrevista, Gabriel também tratou de Candiota. Reconheceu a importância da Companhia Riograndense de Mineração (CRM) e do setor carbonífero para a economia local, mas sustentou que o Estado precisa avançar numa transição energética responsável. A resposta foi equilibrada: reconhece a urgência ambiental, mas não ignora a dependência econômica que a região ainda tem do carvão. A transição, nesse caso, não é apenas energética, é social, e precisa ser conduzida com cuidado.
Há uma simbologia nisso tudo. Quando o governo fala em investimento e em transição, fala também em escolha de rumos. A Zona Sul ainda espera deixar de ser promessa e se tornar prioridade. O vice-governador, ao mesmo tempo em que evita o rótulo de candidato, já ensaia o discurso de quem quer mostrar que tem projeto e que não pretende deixar o protagonismo escapar para outras regiões. Se o segredo for mesmo grande, que não chegue apenas como anúncio, mas como transformação.
Chamado à mesa
Na Rádio Pelotense, o presidente da Azonasul e prefeito de Pinheiro Machado, Ronaldo Madruga (PP), voltou a tratar de um dos temas mais sensíveis para a região: o futuro das BRs 116 e 392, cujos contratos com a concessionária Ecovias Sul se encerram em 2026. A discussão sobre o modelo de transição e a manutenção dos trechos mobiliza prefeitos, mas, segundo ele, ainda carece de engajamento do governo do Estado.
“O governo do Estado tem sua responsabilidade e não fala no assunto. Não estou dizendo que ele deve comandar a licitação, e sim se interessar pela segurança e pela perda de vidas nas estradas. Ele precisa vir para a mesa para o debate. Não pode se encolher deste movimento”, afirmou Madruga. O prefeito lembrou que, em 1998, a licitação que originou o atual contrato começou no âmbito estadual, antes de ser transferida à União. Portanto, o Estado tem uma dívida histórica com o tema.
“A gente sente que estamos esquecidos em alguns temas. O Pronto Socorro foi bom, mas em outros temas estamos esquecidos”, disse, defendendo que os secretários “saiam dos gabinetes e conversem com as associações regionais”. A Azonasul, por sua vez, prepara um conjunto de propostas específicas para apresentar aos candidatos ao governo em 2026. “Não basta vir à Pelotas dar entrevistas e não se reunir com a Associação. Estão perto durante o processo eleitoral, mas não depois, quando precisamos”, concluiu Madruga.
A crítica é pontual, mas representa algo maior: a velha sensação de que, quando o assunto é o Sul, o poder estadual não observa com a mesma prioridade.
Entre o concurso e a realidade
A pressão dos concursados voltou às portas da prefeitura de Pelotas. Nesta semana, um grupo de aprovados nos certames de 2019 protestou pedindo a convocação imediata, após a Câmara aprovar o projeto que cria 2,2 mil novas vagas no quadro municipal. O movimento reacendeu a dúvida: se há vagas, por que o governo não chama quem já passou?
A coluna apurou que a Secretaria de Recursos Humanos mantém o entendimento de que as nomeações seguem, mas de forma gradual e condicionada à existência de vacâncias e à capacidade orçamentária. Internamente, reconhece-se que centenas já foram chamadas desde o início do ano, mas que novas convocações dependem de análise técnica sobre o impacto na folha. Em resumo: a criação das vagas não significa nomeação automática.
Do ponto de vista jurídico, a prefeitura está amparada. A aprovação em concurso não gera direito à nomeação, apenas expectativa, desde que o processo siga dentro do prazo e da ordem de classificação. Isso dá margem ao Executivo para controlar o ritmo das chamadas sem infringir a lei, ainda que o desgaste político seja inevitável.
O concurso de 2019 é um caso à parte, pois enfrentou a pandemia e deixou centenas de pessoas em espera legítima. O ideal seria que todos fossem chamados. Mas é preciso reconhecer que o problema não começou agora.