Calçadas com obstáculos afetam quase metade dos moradores de Pelotas, aponta IBGE

dados

Calçadas com obstáculos afetam quase metade dos moradores de Pelotas, aponta IBGE

Problemas de acessibilidade afetam especialmente pessoas com deficiência, idosos e famílias com crianças pequenas

Por

Atualizado quinta-feira,
06 de Novembro de 2025 às 09:09

Calçadas com obstáculos afetam quase metade dos moradores de Pelotas, aponta IBGE
Deficientes visuais apontam que buracos estão entre os principais desafios (Foto: Jô Folha)

Quase metade dos pelotenses enfrenta dificuldades para se deslocar a pé pela cidade. Dados do Censo 2022 do IBGE revelam que 146.541 dos moradores da área urbana de Pelotas (48,48% da população analisada) vivem em frente a calçadas com obstáculos. A situação afeta tanto os residentes quanto quem circula diariamente pelo município.

O levantamento, divulgado em outubro, analisou 123.035 domicílios em setores urbanos ou com características urbanas, onde vivem 302.276 pessoas. Do total, 47,32% das residências (58.222 domicílios) estão localizadas em calçadas com algum tipo de impedimento. O IBGE considera obstáculo qualquer elemento que dificulte o trânsito de pedestres, como árvores, galhos, postes, buracos, desníveis, rampas irregulares ou calçadas quebradas.

Impacto real

Os números traduzem uma realidade visível nas ruas de Pelotas. O estudo também analisou outras características da população e estimou que cerca de 8,5% possui algum tipo de deficiência, sendo 4,3% com dificuldades para enxergar. Para essas pessoas, os obstáculos representam um risco constante. “Ali em direção ao Mercado Central, tem lajotas soltas. Eu quase caí andando sozinho. Em frente ao banco também, as calçadas estão soltas”, contou Flávio Itaipu, deficiente visual.

A moradora Nádia Vitória, também com deficiência visual, relata outro problema comum: a vegetação que invade as calçadas. “Perto do Hospital Espírita tem uma árvore curvada bem sobre o piso tátil. Hoje mesmo, com chuva, eu bati a cabeça nela. É muito complicado pra quem não tem visão”, disse. Já Haroldo Maciel, que tem baixa visão, destaca a precariedade nas paradas de ônibus. “Na Padre Felício tem uma valeta enorme. É só colocar uma grade, mas já faz mais de cinco anos e nada foi feito. Enquanto não cair alguém, não resolvem”.

A análise do IBGE também apontou que 3,1% dos moradores têm dificuldade para andar ou subir escadas, e dados da prefeitura estimam aproximadamente 20,9% dos pelotenses são idosos (70.250 pessoas) – dois grupos mais vulneráveis à falta de acessibilidade. A situação também impacta gestantes, pessoas com carrinhos de bebê ou com mobilidade temporariamente reduzida. “As calçadas e o calçadão ainda têm muita coisa para arrumar”, contou Marcel da Silva, que passeava no Centro com o neto, Henrique, um bebê de colo. “Nos bairros mais carentes é ainda pior. Quando o conserto é deixado pra depois, o custo acaba sendo maior e o problema também”.

Medidas

O secretário de Urbanismo, Otávio Peres, reconhece o problema e afirma que ele é comum em todo o país. “Esse é um número bastante alarmante. É um desafio que nós temos: garantir um bom tratamento dos passeios públicos. Nosso objetivo é equalizar os investimentos feitos no leito viário com aqueles destinados às calçadas”, explicou.

Embora as calçadas sejam áreas públicas, a responsabilidade pela manutenção é dos proprietários, conforme a Constituição Estadual. “Temos reforçado essa ideia, especialmente junto a empreendimentos comerciais e novos loteamentos, que já precisam investir nas calçadas de forma adequada”, disse Peres.

A prefeitura também busca incluir melhorias de acessibilidade em projetos de mobilidade urbana. Um deles é o Caminho do Ônibus, vinculado ao PAC Mobilidade, que prevê obras em dez bairros – entre eles Fragata, Santa Terezinha, Pestano, Areal Fundos, Valverde e Navegantes. O projeto contempla 12,5 quilômetros de intervenções em 32 ruas e avenidas, com o objetivo de melhorar a mobilidade de pedestres e do transporte coletivo.

Atualmente, segundo o levantamento para implantação do PAC, 25% dos 335 quilômetros de vias utilizadas pelo transporte coletivo em Pelotas não têm pavimentação adequada, sendo formadas por pedra irregular, anti-pó ou permanecendo sem calçamento – um reflexo da desigualdade na infraestrutura urbana.

Acompanhe
nossas
redes sociais