Em dois anos, maus tratos a idosos cresce 135% em Pelotas

Etarismo

Em dois anos, maus tratos a idosos cresce 135% em Pelotas

Dados são do Mapa da Violência produzido pela LSd da UCPel, que traz à tona a complexidade criminal, além de ajudar na formulação de políticas públicas

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Em dois anos, maus tratos a idosos cresce 135% em Pelotas
Em relação ao abandono de idosos, houve uma pequena queda na região de 38 para 27, entre 2023 e 2024 (Foto: Jô Folha)

A nova edição do Mapa da Violência da Zona Sul, elaborada pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), traz um retrato preocupante: os crimes de maus-tratos contra idosos cresceram 56,25% na região em dois anos. Em Pelotas, o aumento foi ainda mais expressivo, de 135% entre 2022 e 2024, enquanto Rio Grande registrou crescimento de 30%. O estudo foi produzido pelo Laboratório Social de Administração da Justiça, Conflitos e Tecnologia (LSd/UCPel), em parceria com o GITEP e o Grupo de Pesquisa Corpos Cativos (GPCC).

O levantamento analisa dados de 29 municípios da Zona Sul e reforça que a segurança pública segue como uma das principais preocupações sociais, agravada pela redução de efetivos policiais, precariedade do sistema prisional e avanço de facções criminosas. Para o coordenador do LSd/UCPel, professor Aknaton Toczek Souza, a pesquisa busca subsidiar políticas públicas mais precisas. “O Mapa tenta ser um processo contínuo de observação e coprodução de conhecimento voltado à formulação de estratégias intersetoriais e à qualificação das políticas públicas de segurança”, afirma.

A edição 2025 amplia o escopo da análise ao incluir novas categorias, como crimes contra idosos e aborto, além de atualizar dados sobre homicídios, furtos, roubos, tráfico e violência de gênero. Souza explica que, embora os dados abertos tenham limitações, eles ajudam a identificar “crimes sentinela”, que podem indicar o agravamento de comportamentos violentos. Entre eles estão abandono de incapaz, ameaça, assédio sexual e descumprimento de medidas protetivas.

“Esses registros, quando crescem, podem sinalizar o aumento de práticas mais graves, como lesão corporal e feminicídio”, observa.
Para o pesquisador, ações genéricas dificultam o enfrentamento da criminalidade. “As formas de violência são muito diversas. Quando tudo é tratado como um único problema, perde-se a capacidade de compreender e acolher as vítimas conforme suas especificidades”, argumenta. Ele defende a criação de estruturas especializadas, voltadas a delitos de gênero, raciais e etários, para aprimorar o atendimento e a inteligência institucional.

Etarismo

Em Rio Grande, a Delegacia de Proteção a Grupos Vulneráveis (DPPGV) já atua com foco em casos de etarismo e maus-tratos. A inspetora Perla de Castro Macedo explica que o cartório especializado recebe denúncias do Disque 100 e realiza fiscalizações em Instituições de Longa Permanência (ILPIs) em parceria com a rede municipal. “Também priorizamos o atendimento humanizado, indo até o idoso quando há limitações físicas. Em casos suspeitos, os familiares são acionados imediatamente”, relata.

Em Pelotas, o delegado regional Márcio Steffens reconhece que a demanda por crimes contra grupos vulneráveis ainda não justificaria uma nova delegacia. “Temos a Delegacia da Mulher e a da Criança e do Adolescente, e dentro da primeira há cartórios voltados à proteção dos idosos e aos crimes de discriminação, ética, racial e religiosa. Essas estruturas já atendem boa parte das ocorrências”, explica.

O mapa em Números

Segundo o estudo, a Zona Sul reúne 1,09 milhão de habitantes, o equivalente a 9,7% da população gaúcha, distribuídos em uma área de 49,6 mil km² (17% do território estadual). O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH) varia entre 0,623 e 0,744, situando a região entre as faixas de médio e alto desenvolvimento humano.

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