Escavações na Praça Coronel Osório revelam segredos do passado de Pelotas

prospecção arqueológica

Escavações na Praça Coronel Osório revelam segredos do passado de Pelotas

Trabalho da prefeitura e do curso de Arqueologia da UFPel busca vestígios do passado durante reforma dos banheiros da praça

Por

Atualizado quinta-feira,
30 de Outubro de 2025 às 11:29

Escavações na Praça Coronel Osório revelam segredos do passado de Pelotas
Trabalho está na fase de sondagem atualmente (Foto: Jô Folha)

Já pensou encontrar itens datados de séculos passados que estavam enterrados? Nesta semana, a prefeitura e o curso de Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) deram início a um trabalho de prospecção arqueológica na Praça Coronel Pedro Osório, em Pelotas. Sob o aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as escavações acontecem no trecho dos banheiros da praça, em reforma, e prometem desvendar detalhes do passado da cidade.

O local não é novidade para os pesquisadores. Antigamente, a praça era um terreno baldio que servia como ponto de descarte de lixo para os casarões e residências do entorno. Através da escavação, “pode-se contar uma história da Pelotas do século 19 a partir desses contextos arqueológicos”, conforme aponta o professor e coordenador do projeto, Rafael Milheira, do Laboratório de Antropologia e Arqueologia.

Com a experiência de intervenções anteriores no mesmo local (em 2002, 2004 e 2006), os arqueólogos já sabem o que buscar: restos de louças importadas, vidros, cerâmicas locais, utensílios de metal e até ossos de animais. Porém, na etapa atual, é realizado o processo de sondagens, e o grupo escava sem ter certeza do que vai encontrar debaixo da terra.

O “lixo” da elite

Um pedaço de louça foi uma das descobertas da tarde de ontem no local (Foto: Jô Folha)

O que para alguns é só lixo, para os arqueólogos é um valioso registro de consumo, quase uma fotografia social. O excesso de peças importadas, especialmente da Inglaterra, revela o alto poder aquisitivo da elite pelotense. “É muito material inglês, importado da Holanda, de Portugal, mas especialmente da Inglaterra, que era o grande comércio internacional naquele período”, diz Milheira.

Além disso, a análise dos fragmentos sugere um caráter cosmopolita para a cidade da época. O arqueólogo Aloísio Alves, também da UFPel, destaca que o material encontrado pode dar pistas sobre diversos aspectos sociais: “[O material revela] comportamentos de consumo da população, da circulação de mercadorias, da condição socioeconômica da população e dos hábitos de higiene.”

O método científico em campo

A escavação está sendo feita em uma área de 70 metros quadrados, com a abertura de 26 “quadrículas” (de 50×50 centímetros e 1,30 metro de profundidade). A arqueóloga e técnica da UFPel, Luciana Peixoto, detalha o processo: “como a praça já tem um histórico de escavações, a gente está fazendo uma espécie de salvamento, abrindo algumas ‘janelas’ para verificar se nesse espaço também tem o mesmo tipo de material.”

Todo material coletado é minuciosamente registrado, catalogado por camadas de solo (estratigrafia) e levado para o Laboratório de Antropologia e Arqueologia. “A gente consegue ter outro olhar sobre histórias que foram contadas ou trazer elementos que vão contradizer a documentação escrita”, revela Aloísio Alves.

História para a comunidade

O projeto não se limita ao trabalho de campo. Há, ainda, uma vertente de educação patrimonial. Durante a 51ª Feira do Livro, a comunidade poderá acompanhar as atividades e visitar uma exposição de peças e objetos resgatados nas intervenções. “A comunidade pelotense tem que conhecer a sua história, né? […] e não é todo dia que a gente tem escavações arqueológicas acontecendo no Centro”, conclui o Milheira, ressaltando o valor da iniciativa para a população.

Acompanhe
nossas
redes sociais