“É bom que o arroz seja barato, mas não pode ser insustentável para quem produz”

ABRE ASPAS

“É bom que o arroz seja barato, mas não pode ser insustentável para quem produz”

Augusto Rassier - Presidente do Sindicato Rural de Pelotas

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Atualizado quinta-feira,
30 de Outubro de 2025 às 10:32

“É bom que o arroz seja barato, mas não pode ser insustentável para quem produz”
Rassier pede também crédito para que o produtor consiga investir em seus negócios (Foto: Divulgação)

Em entrevista ao programa Acorda Zona Sul, da Rádio Pelotense, o presidente do Sindicato Rural de Pelotas, Augusto Rassier, falou sobre o atual cenário do agronegócio na região e no Estado, com destaque para a crise de preços no setor orizícola, as dificuldades de acesso a crédito e a importância da representação política rural.

Como você avalia a situação atual do setor arrozeiro e a campanha “O Arroz Combina” como forma de ajudar produtores e indústrias?
Hoje enfrentamos um excesso de arroz no mercado, tanto interno quanto mundial, devido às boas safras e da queda no consumo. Com isso, o preço cai. É bom que o arroz esteja barato para a população, mas ele não pode ser insustentável para quem produz. Se o produtor tiver prejuízo, ele para de plantar, e o preço sobe automaticamente — é a lei da oferta e da procura. Por isso, precisamos estimular o consumo. Nosso arroz é de altíssima qualidade, reconhecido mundialmente. Não podemos pedir para o produtor reduzir área ou produtividade. Nenhuma economia se desenvolve produzindo menos. A saída é ampliar mercados e incentivar o consumo. Hoje o preço pago pela indústria não cobre os custos de produção. No ano passado, o arroz era vendido a R$ 115 ou R$ 120 a saca. Hoje, está em torno de R$ 60. E os custos não caíram na mesma proporção. Isso cria um desajuste perigoso, especialmente após seis anos de dificuldades climáticas.

Como o sindicato tem acompanhado a questão das dívidas dos produtores?
Não está fácil dar boas notícias. Nos últimos seis anos, tivemos cinco anos de estiagem e uma enchente no último ano. Foram cerca de R$ 320 bilhões perdidos com problemas climáticos. Avançamos na liberação de projetos de irrigação e construção de barragens, o que é positivo. Mas falta crédito para que o produtor consiga investir. Hoje, entre 40 e 45 mil produtores podem deixar a atividade. Isso empobrece toda a sociedade. O que o produtor pede é securitização, que não é perdão da dívida, e sim alongamento de prazos. Nenhum setor econômico consegue trabalhar seis anos seguidos no prejuízo. Os R$ 12 bilhões anunciados são insuficientes. O ideal seria ao menos R$ 30 bilhões. E o acesso ao crédito está cada vez mais difícil, pois o sistema financeiro aumenta as exigências quando o setor está em crise. O Sindicato Rural e a Farsul têm dialogado com o governo e parlamentares para tentar destravar o crédito.

Como você avalia a projeção de safra de grãos recorde feita pela Conab?
Essa projeção depende de condições climáticas e financeiras. Gostaria de saber de onde o produtor vai tirar dinheiro para produzir tanto, sem conseguir pagar suas dívidas. Mesmo assim, torço para acontecer, porque quanto mais produzimos, melhor. E há um ponto positivo: o Rio Grande do Sul vem desenvolvendo culturas de inverno, como a canola. Com apoio da pesquisa e das empresas, estamos consolidando uma nova alternativa de renda, com bom mercado comprador.

E como tem sido o papel das entidades rurais na defesa e no fortalecimento do setor?
Fui presidente da Associação Rural de Pelotas por três anos. É uma instituição de grande importância para a cidade e para a região. O Sindicato Rural, por sua vez, é o representante legal dos produtores. Faz negociações coletivas de trabalho e trata de temas como o imposto territorial rural. As duas entidades são coirmãs e se complementam. Durante a pandemia, a Associação cedeu sua estrutura para vacinação e testagem. Nas enchentes do ano passado, recebemos animais e ajudamos a cidade. Foram momentos difíceis, mas que mostraram a solidariedade da nossa comunidade.

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