Nesta quarta-feira (29), é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular Cerebral (AVC). Conhecida como derrame, a doença tem se tornado mais comum. Segundo a Secretaria de Saúde de Pelotas, até setembro, já foram realizados 555 diagnósticos neste ano no município. O aumento entre pessoas mais jovens também chama a atenção.
O AVC ocorre quando há diminuição do fluxo de sangue em uma parte do cérebro, fazendo com que os neurônios parem de funcionar. O tipo mais comum é o isquêmico, que representa cerca de 85% dos casos, e ocorre devido ao entupimento dos vasos sanguíneos. Já o hemorrágico resulta de um extravasamento desses vasos, causando sangramento no cérebro.
Sintomas e diagnóstico
O neurologista e professor da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Luiz Augusto Lobato, explica que os sintomas do AVC aparecem de forma súbita. Entre eles: perda de força de um lado do corpo, boca torta, fala enrolada, dificuldade de entendimento e falas desconexas.
Ele cita a Escala Cincinnati, conhecida no Brasil como SAMU (Sorria, Abrace, Música, Urgente), usada para identificar os sinais: o sorriso verifica se a boca está torta; o abraço, se os braços são sustentados; a música, se a fala está correta; e o “urgente” lembra que o atendimento deve ser imediato. Ele destaca que diagnóstico rápido é absolutamente crucial, pois existe possibilidade de reversão, caso seja atendido em menos de 4h30min após o aparecimento dos sintomas.
Outro fenômeno é o ataque isquêmico transitório (AIT), conhecido como AVC transitório. Trata-se de um bloqueio temporário do fluxo sanguíneo para o cérebro e causa sintomas semelhantes aos de um AVC, mas geralmente desaparece em menos de uma hora. “É um sinal fortíssimo de que um AVC deve acontecer em breve. Se perceber esses sinais, mesmo que eles revertam, é preciso procurar atendimento”, ressalta o médico.
Tratamento e qualidade de vida
Lobato informa que o tratamento depende do tipo de AVC. No caso dos hemorrágicos, há casos com necessidade de cirurgia e outros de apenas internação para controle da pressão arterial. Já os isquêmicos dependem do tempo entre o diagnóstico e o atendimento. “Se você trata antes das 4h30min, os neurônios ainda não morreram, você reverte os danos e eles podem voltar ao funcionamento anterior. Se passa desse período, os neurônios já morreram. Nesse caso, o objetivo será investigar os fatores de risco, descobrir por que o paciente teve esse AVC e buscar prevenir um novo episódio”.
A qualidade de vida após o caso dependerá, principalmente, se houve a reversão do quadro e de qual área do cérebro afetada. “A reabilitação, às vezes, demora meses ou anos, com fisioterapia e fonoaudiologia, para chegar no ponto máximo de recuperação. E cada paciente terá uma recuperação máxima, depende do seu organismo”, afirma o neurologista.
Incidência por sexo e idade
O neurologista explica que a incidência de AVC em homens e mulheres é bem parecida. Porém, entre os mais jovens, ele é mais comum em homens; e, entre os mais velhos, em mulheres. Isso acontece porque as mulheres tendem a viver mais e esta é uma doença comum com o avançar da idade.
Ele também explica a ligação entre o uso de anticoncepcional e os AVCs, reforçando que o uso deste contraceptivo só é preocupante quando utilizado por mulheres que já têm outros fatores de risco, como hipertensão e tabagismo, e fazem uso de anticoncepcionais do tipo combinado (estrogênio + progesterona) com altas doses. “Isso às vezes assusta as pessoas, mas tem que ser visto dentro do contexto da paciente. Tanto que é raríssimo AVC em mulheres jovens”, esclarece.
Estudos já registraram o aumento de cerca de 20% nos casos de AVC em jovens. As hipóteses apontam como causa os maus hábitos da juventude, como sedentarismo, má alimentação e qualidade de sono, tabagismo, uso de álcool e drogas ilícitas, e estresse. “Não são coisas que, isoladamente, vão causar um AVC, mas são fatores de risco que vão se somando”, explica.
Prevenção
Lobato garante que, para pessoas que nunca tiveram AVCs ou AITs, o cuidado mais importante é manter hábitos de vida saudáveis. “Dormir bem, ter uma alimentação saudável, fazer exercícios físicos, não fumar ou, se está fumando, parar o mais breve possível”, reforça ele. Também enfatiza a importância das consultas de rotina com clínicos gerais, controlando a pressão, diabetes e colesterol.
