Em meio ao movimento da Praça Coronel Pedro Osório, o som que ecoa tem a chance de vir de um instrumento inusitado: uma vassoura. Serginho da Vassoura, como é conhecido, encontrou na criatividade e na simplicidade uma forma única de se expressar.
Como e quando começou a tua relação com a música?
Eu, quando criança, fui criado no meio de escola de samba, por causa do meu pai e da minha mãe. Tinha os ensaios, e ali foi meu primeiro contato com a música. Depois, meu pai teve um bar, e foi lá que eu via os músicos tocarem violão. Comecei a aprender com o mestre Coca, que tocava lá. Mais tarde, comecei a fazer artesanato e fui pra rua, mas sempre levando o violão junto. A música me acompanhava. Viajei pelo Brasil com a minha arte, tocando nas ruas.
A primeira vassoura que fiz foi aqui em Pelotas, em 1999, acho. Toquei pela primeira vez com ela no Teatro Sete de Abril. Depois, na estrada, ela acabou estragando, e fiz a segunda, no Rio de Janeiro, quando fui pra lá na época do show dos Rolling Stones em Copacabana. Agora, estou criando a terceira vassoura, fechando uma trilogia, e retomando um projeto pelo Procultura, o Turnê pelas Calçadas, em que toco nos bairros com instrumentos artesanais que eu mesmo faço.
De onde veio a ideia de transformar uma vassoura em instrumento musical?
Desde criança eu tinha essa visão, sabe? Via nos filmes as pessoas dançando ou fingindo tocar guitarra com a vassoura. Um dia, eu tinha só o braço de um violão quebrado, e aí pensei: por que não fazer o corpo de uma vassoura? A ideia veio dessas lembranças da infância, de brincar, dançar, imaginar. E deu certo.
Tu lembras da primeira vez que tocou com ela nas ruas? Como foi a reação das pessoas?
A primeira vassoura eu toquei um pouco aqui em Pelotas, mas só quando tinha uma caixa pra ligar, porque ela é elétrica. Quando fiz a segunda, comecei a tocar direto na rua, já com uma caixinha de som. Viajei com ela por vários estados – Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo… Antes disso, até participei de uns movimentos punk aqui na cidade. A reação das pessoas sempre foi curiosa, sabe? É diferente ver alguém tocando uma vassoura, então chama atenção.
Que sentimento tu queres despertar nas pessoas com a tua música?
O som que eu faço na rua tem muito de improviso. Eu começo com 20% da ideia pronta, o resto acontece ali, na hora. Gosto de compor com o que vejo, com o que está acontecendo ao meu redor. Toco pra representar a música da rua, porque a rua tem tudo, e a música também precisa estar nela. Tento quebrar um pouco a dureza do dia a dia das pessoas.