Diante da sensação de impunidade que tanto assombra a sociedade, duas notícias nos últimos dias mostram que é possível acreditar em justiça: na França, o ex-presidente Nicolas Sarkozy vai cumprir pena de cinco anos anos na prisão, condenado conspiração para arrecadar fundos de campanha da Líbia. Aqui, em Pelotas, um ex-servidor da prefeitura, ligado à Assistência Social, foi preso sob acusação de desvio de recursos do Benefício de Prestação Continuada de pessoas vulneráveis.
Frente a tudo isso, a reflexão que fica é que a percepção de impunidade, que tanto desanima as pessoas e inspira os ímpios e corruptos, não é uma regra. Os braços da Justiça também alcançam eles, seja um ex-presidente europeu, seja um servidor de baixo clero aqui no fim da América do Sul. E é fundamental que a própria sociedade mantenha isso em mente: precisamos acreditar que a Justiça existe.
Porém, uma pesquisa do Índice de Confiança Social divulgada em julho pelo Ipsos-Ipec mostra que praticamente metade dos brasileiros não têm confiança no sistema judiciário, e isso é um perigo. O próprio sistema precisa voltar a compreender seu papel, com certa discrição e mais celeridade.
E isso se dá por razões específicas. A própria demora que as coisas levam para acontecer serve para essa crise de imagem, bem como os excessos midiáticos cometidos por figuras, que vão do juiz de primeira instância até figurões do Supremo Tribunal Federal. A reconexão com a comunidade passa diretamente por exercer seu papel da maneira que é esperada, e como sempre foi.
A nível de país, é preciso que a sensação de impunidade passe a ser superada com soluções práticas, de cumprimento eficaz da justiça. Do figurão que desvia bilhões de uma estatal ao ladrão que arromba prédios, é capturado e em poucos dias está novamente na rua, como aconteceu recentemente em Pelotas. A retomada da confiança passa justamente por movimentos do próprio judiciário.