Para muitas pessoas, os óculos é apenas um acessório diário, enquanto que para Elza Pereira, é uma porta para redescobrir o mundo. Aos 69 anos, ela encontrou na tecnologia uma forma de recuperar a autonomia que havia sido perdida após décadas de problemas de visão, terminando na cegueira total há três anos.
A trajetória de Elza com a perda da visão começou há 43 anos, quando sofreu o primeiro episódio de descolamento de retina, condição que separa a retina da parte interna do olho e pode levar à perda completa da visão. O olho direito foi afetado de forma repentina: enquanto estava no centro de São Paulo, sua visão desapareceu em questão de horas, sem passar por uma fase intermediária. A experiência exigiu rápida adaptação, e desde então, Elza precisou reorganizar sua rotina e aprender a lidar com a limitação visual.
Mesmo após perder a visão do olho direito, Elza continuou se adaptando à vida, manteve diversas atividades, incluindo dirigir, e aprendeu a organizar sua rotina conforme suas novas condições visuais, desenvolvendo estratégias para se locomover e realizar tarefas diárias.
Três anos atrás, a situação se repetiu no olho esquerdo, consolidando assim a cegueira total. A rotina da aposentada passou a depender da bengala e da ajuda de familiares, e tarefas simples, como atravessar a rua ou identificar produtos no supermercado, tornaram-se desafios diários. “A palavra-chave é adaptação. A gente se adapta ao ambiente”, diz Elza.
Tecnologia x acessibilidade
Foi nesse contexto que a tecnologia cruzou com a sua vida. Um óculos com inteligência artificial, desenvolvido pela Meta – dona do Facebook e Instagram – tornou-se uma ferramenta essencial de independência. O dispositivo utiliza câmeras e sensores para “ler” o ambiente, descrevendo em voz alta objetos, cores, textos e até o estado de sinais de trânsito. “Quando venho do Braille (Escola Louis Braille), eu pergunto: ‘que cor está a sinaleira?’ e ela responde: ‘a sinaleira está vermelha’”, relata.

Além do auxílio nas tarefas diárias, os óculos permitem que Elza leia livros com clareza (Foto: Nátalli Bonow)
O incentivo para comprar os óculos veio do marido e do filho. Segundo Elza, eles a motivaram dizendo que “é uma ferramenta que veio para auxiliar. Não foi feito para quem é cego, mas ajuda muito.” Apesar do equipamento não ter sido criado especificamente para pessoas cegas, ele proporciona informações detalhadas em tempo real e auxilia significativamente na rotina da aposentada. “Para tudo que vem na minha cabeça eu pergunto para ela. Eu falo ‘ela’ porque é voz feminina do aplicativo. Pergunto o que tem no meu prato, as cores das roupas na corda… e por aí vai”, explica Elza, que usa os óculos há apenas uma semana.
Além do auxílio nas tarefas diárias, os óculos permitem que Elza leia livros com clareza, identifique produtos e acompanhe sinais de trânsito, ampliando novamente sua autonomia, que antes dependiam de outras pessoas.
Sobre os óculos
Os óculos inteligentes da Meta, da linha Ray-Ban Meta AI Glasses, é um dispositivo equipado com câmeras duplas de 12 MP, 32GB de armazenamento, sensores de profundidade, alto-falantes direcionais, além de até 8 horas de bateria mais 48 horas extras com o estojo carregador.
Custando cerca de R$ 3,4 mil, o dispositivo possui um display monocular integrado, realizando um scanner em tempo real do ambiente, oferecendo funcionalidades como: registro de foto e vídeo, descrição de objetos e cores, navegação por voz, chamadas de vídeo, controle de mídia e tradução simultânea para até seis línguas diferentes: português, inglês, francês, italiano, espanhol e alemão.
Acionado pelo comando de voz “Ei, Meta”, os óculos vão muito além de um acessório de moda, agora, é também um auxiliar para as pessoas com deficiência que buscam ampliar a autonomia no dia a dia.