Oguener Tissot teria completado 44 anos no último domingo (12), quando o filho Miguel, sete, pediu para aproveitar a tarde do Dia das Crianças na sede do Remar para o Futuro. Lá, às margens do arroio Pelotas, seu pai teve o legado eternizado com uma placa em uma área que desde abril leva o nome do idealizador do projeto responsável por transformar o esporte da cidade, alçando o remo pelotense ao status de referência nacional.
Miguel se criou no espaço verde hoje chamado de Largo Oguener Tissot. O trabalho do treinador durante os nove anos em que esteve à frente do Remar para o Futuro é definido por ao menos três pessoas próximas como “o exército de um homem só”. As palavras vêm da mãe de Oguener, Silvia Maria Tissot; do atleta Piedro Tuchtenhagen; e do coordenador do projeto, Fabrício Boscolo.
Neste mesmo 12 de outubro, quando acabou o Campeonato Brasileiro de Barcos Longos, a Confederação Brasileira de Remo (CBR) entregou aos representantes do Remar no Rio de Janeiro uma placa “em reconhecimento à dedicação e ao trabalho incansável e inspirador” do pelotense. Oguener já havia sido convocado pela CBR como técnico de várias categorias de base da seleção.
Vida ligada ao remo
Em uma conversa com a reportagem na sede do Remar, Silvia admite, emocionada, que a tragédia a fez perceber a dimensão do feito do filho. “Nem eu tinha noção do tamanho do alcance do projeto. Na realidade, só vi isso no dia do velório. […] O projeto era a vida dele. Isso aqui [sede do projeto] era a casa, o escritório dele. Tirou milhares de fotos desse pôr do sol. Sempre foi muito obstinado e resiliente para conseguir as coisas”, conta.
A paixão do treinador pelo remo começou ainda na infância, mas só foi virar profissão nos anos 2000. Oguener acumulou experiência no Clube Náutico Gaúcho e começou a atuar no desenvolvimento de jovens em 2010, com o projeto Remando contra a Maré, que durou cerca de um ano, em parceria com o Grêmio Náutico Gaúcho, de Porto Alegre, e a empresa Freedom.
Em 2013 veio a Academia de Remo Tissot e, em 2015, o Remar para o Futuro, após a concretização das parcerias com as universidades (UFPel e UCPel) e a prefeitura. “O sonho dele era tornar Pelotas uma referência nacional do remo, mas de outros esportes também”, resume Silvia. A rampa de acesso à água na sede do projeto, inaugurada em julho deste ano após investimento da Unimed, era um dos seus grandes desejos. Fora do âmbito esportivo, Oguener ajudou, de barco, famílias afetadas pela enchente no Laranjal em 2024.
Domingo de homenagem na sede do projeto
A Associação Remar para o Futuro Oguener Tissot realiza neste domingo (19), a partir das 9h30min, um evento em memória às vítimas da tragédia. Na área verde da sede do projeto, ocorrerá uma homenagem junto à placa. Depois, às 10h, um tributo no arroio Pelotas; às 11h, uma missa campal; e às 12h o encerramento.
O endereço é a rua Cidade de Aveiro, 500, no Recanto de Portugal.
Milgarejo segue em frente
Único sobrevivente do acidente, João Pedro Milgarejo continua na equipe do Remar, que também tem a pré-equipe e o time de aspirantes. Desde outubro de 2024, ele participou de um período de treinamento na Itália e disputou o Sul-Americano no Paraguai. Além disso, competiu no Gaúcho e no Brasileiro.
Nove vidas perdidas
No acidente ocorrido na BR-376, em Guaratuba (PR), perderam a vida os atletas Samuel Benites Lopes, 15 anos; Henry Fontoura Guimarães, 17; João Pedro Kerchiner, 17; Helen Belony Centeno, 20; Nicole Colella da Cruz, 15; Angel Souto Vidal, 16; e Vitor Fernandes Camargo, 17, além de Oguener, 43, e do motorista da van, Ricardo Leal da Cunha, 52.
A delegação do projeto pelotense, fundado em 2015 e ligado à prefeitura e à UFPel, retornava de São Paulo. Na capital paulista, o grupo disputou o Campeonato Brasileiro Unificado de Remo. Os atletas do Remar conquistaram um total de sete medalhas (duas de ouro, três de prata e duas de bronze).