Durante toda a minha vida, ouvi que as meninas amadurecem mais cedo. Visualizamos o mundo de uma forma diferente, mais compreensiva. Entendemos os adultos com mais facilidade. Já ouvi de uma ginecologista que isso acontecia devido aos nossos hormônios, o que — mesmo sem ter nenhuma formação médica — afirmo ser apenas parcialmente verdade. Nossas “brincadeiras” de infância são um treinamento para o que iremos enfrentar no futuro: casa, mesa e banho. Forninho, um bebê chorando, um tanque que sai água de verdade.
As brincadeiras dos meninos são realmente brincadeiras. Movimentar-se, descobrir a extensão do próprio corpo e, o principal: agir como uma criança agiria. Recentemente, fui com as minhas melhores amigas a uma loja de brinquedos e fomos surpreendidas positivamente com uma goleira e uma bola de futebol com uma menina na capa — obviamente cor de rosa (foi uma surpresa boa, mas ainda não presenciamos uma revolução) — e vibramos com a foto daquele gol. Aquilo não existia quinze anos atrás.
— Eu sempre fui péssima em esportes, mas talvez, se tivesse esse brinquedo, poderia não ser.
As minhas amigas riram, e eu entendi que nem a revolução dos brinquedos me tiraria do banco da educação física. Fomos felizes naquela loja, procurando o que havia de diferente. Parecíamos crianças de novo, a ponto de considerar juntar nossos salários de estagiárias para comprar o que não existia na nossa idade. Agir como uma criança, quando criança, não deveria ser um privilégio ou um treinamento para a vida adulta.
E isso se perpetua na nossa adolescência. Aos quinze anos, somos vistas como mulheres. Precisamos agir e nos vestir assim para obter a aceitação da sociedade. Enquanto um menino de quinze anos é “apenas um menino”, se descobrindo e agindo como um adolescente. A pauta da adultização das crianças começou a tomar uma proporção maior com as redes sociais, mas acredito que a questão se manifeste de uma forma muito mais profunda e problemática do que ainda se consegue observar — até com uma simples visita a uma loja de brinquedos.
