A Otroporto Indústria Criativa realiza nesta sexta-feira (17), o lançamento oficial do livro Os quilombolas do General Manoel Padeiro. Com roteiro e textos de Duda Keiber e ilustrações de Alisson Affonso, a obra traz à luz uma crucial história de resistência e luta pela liberdade na Zona Sul do Estado. O livro narra a saga de um grupo de homens e mulheres escravizados que, entre 1834 e 1835, desafiaram o sistema escravocrata na região de Pelotas, liderados por General Manoel Padeiro. O evento, aberto ao público, ocorrerá na sede da entidade, na rua Benjamin Constant, 701 A, às 19h.
Na Serra dos Tapes, Padeiro comandou um quilombo itinerante, em constante movimento, que se opôs às forças escravocratas com estratégia, inteligência e coragem. Um dos autores Duda Keiber ressalta que a obra vai além do registro histórico, posicionando Manoel Padeiro como um “símbolo necessário para o Brasil contemporâneo”, um país que, segundo ele, ainda luta para reconhecer plenamente sua história escravocrata.
A pesquisa e construção da narrativa contaram com importantes participações dos professores e pesquisadores Cláudia Daiane Garcia Molet e Caiuá Cardoso Al-Alam, e a apresentação de Alexandre Mattos. Um momento significativo para o autor foi o reencontro com a trineta do General, Vera de Souza, filha da bisneta do quilombola, Maria Eva Medronha de Souza, que conectou as pontas da pesquisa histórica.
O projeto literário marca, ainda, o início de uma produção audiovisual, financiada pelo edital do Audiovisual – Lei Paulo Gustavo, da prefeitura de Pelotas, que levará a história para as telas. Alexandre Meirelles atua como roteirista assistente. “Ao contrário dos heróis mitológicos ou dos personagens glorificados pelas grandes narrativas, Manoel Padeiro foi um homem negro que transformou a fuga em revolta e a revolta em liberdade”, destaca Keiber.
Desafio e responsabilidade
Para o ilustrador Alisson Affonso, artista visual negro, a obra é uma das mais importantes de sua trajetória, tanto pelo “patrimônio” cultural adquirido durante a pesquisa quanto pela colaboração para outras linguagens. Esta é a segunda obra em que Affonso participa com foco na figura de Manuel Padeiro . “Gosto da ideia de estar cruzando por esse universo”, fala o artista.
Remontar essa história e recriar personagens trágicos e ricos foi um desafio e uma responsabilidade, em especial pela violência da história escravocrata no Rio Grande do Sul. “Um dos meus dilemas foi trazer isso à tona nas imagens (a violência) e ao mesmo tempo não ser somente grotesco. Ter esta complexa cautela estética definiu o rumo da minha colaboração com a condução da apreciação das ilustrações pelo Duda”, comenta Affonso.
Keiber expressa o desejo de que o livro seja uma ferramenta de resgate do personagem e de empoderamento preto, para ser utilizado como objeto de pesquisa e de transformação social. “Acho que não basta não ser racista na sociedade de hoje, o cara tem que ser antirracista. Essa é uma ferramenta de criação coletiva de um grupo antirracista e basilado pela Otroporto, que é o ambiente que a gente quer que tenha essa linguagem”, conclui o autor.