“Amazon Indigenous Wisdom: Shaping Climate Solutions in Brazil”, conhecido como Mae Mekea – na língua Huni Kuin significa “Cuidar do Planeta” – será apresentado na COP30, em Belém (PA), em novembro deste ano. A iniciativa, desenvolvida pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com financiamento da The British Academy, está sob a coordenação da professora Adriana Portella, com o vice-coordenador Eduardo Rocha, ambos do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da universidade. O projeto busca valorizar os saberes indígenas e denunciar os impactos da crise climática sobre comunidades da Amazônia brasileira.
Durante a expedição realizada entre 9 de fevereiro e 11 de março de 2025, pesquisadores conviveram por um mês com seis comunidades indígenas, registrando relatos, práticas tradicionais e impactos ambientais que muitas vezes não aparecem em relatórios oficiais. “Conheci um Brasil que muitos desconhecem, onde a desigualdade ambiental é extrema. Nosso objetivo é transformar a pesquisa em ação, levando à sociedade civil e aos formuladores de políticas um olhar sobre o cuidado que essas comunidades têm com o planeta”, conta Adriana.
COP30
A equipe apresentará os resultados parciais do projeto e participará de mesas de debate sobre justiça climática, educação ambiental e protagonismo das comunidades tradicionais. O projeto será exibido em espaços paralelos à conferência oficial, como a “COP do Povo” e a “Aldeia COP”, que reúnem movimentos sociais e lideranças indígenas para discutir políticas climáticas fora do contexto governamental. “Nossa participação reforça que as soluções para as mudanças climáticas emergem da diversidade territorial, cultural e epistemológica do Brasil. Levar à COP um projeto desenvolvido entre a Amazônia e o Sul significa mostrar a potência da colaboração inter-regional e o papel da UFPel na construção de políticas e práticas que unem ciência, arte e justiça ambiental. É motivo de orgulho e de responsabilidade, pois representa a voz da universidade pública brasileira em um dos maiores fóruns do planeta”, afirma Adriana.
Documentário Mae Mekea
A expedição também será transformada em um documentário, dirigido pela professora e coordenadora do curso de Cinema da UFPel, Cíntia Langie. O filme terá caráter de documentário-denúncia, mostrando situações de falta de água potável, rios contaminados, desmatamento, insegurança alimentar e ameaças às lideranças indígenas, além de destacar o conhecimento ancestral das comunidades como ferramenta essencial para soluções climáticas sustentáveis.
As filmagens contaram com a participação de jovens indígenas, que também operaram as câmeras e registraram suas próprias perspectivas, evidenciando a relação íntima entre natureza e cultura. “Queremos que o público sinta o peso da injustiça climática e compreenda que o colapso ambiental já está em curso, e que ele tem rostos, nomes e histórias reais.” ressalta Adriana.
O documentário ainda está em produção, com lançamento previsto para julho de 2026, começando internacionalmente em Edimburgo (Escócia), seguido de exibições no Brasil, incluindo uma edição especial gratuita em Pelotas, no Cine UFPel. Parte do material da expedição, incluindo fotografias e uma maquete 3D da Amazônia, efaz parte da mostra “Rumo à COP30: Vozes que Ecoam pela Justiça Climática”, aberta até 18 de outubro, no prédio do CEHUS/UFPel.
Participação multidisciplinar
O Mae Mekea reúne uma equipe multidisciplinar, incluindo arquitetos, urbanistas, geógrafos, psicólogos, antropólogos e fotógrafos. Segundo a professora, o projeto busca linkar o conhecimento acadêmico ao conhecimento ancestral das comunidades indígenas, que possuem práticas de construção sustentável e convivência respeitosa com o meio ambiente, desenvolvidas há milhares de anos. A integração dessas diferentes áreas permite coletar dados variados e interpretar as práticas indígenas sob múltiplos olhares acadêmicos.