A tensão em torno do embarque de arroz beneficiado no Porto de Rio Grande ganhou novo capítulo nesta semana. O setor produtivo segue cobrando agilidade nas medidas para destravar o fluxo logístico do terminal, que enfrenta superlotação e restrições nas janelas de entrega de contêineres há cerca de dois meses.
O vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Fernando Rechsteiner, afirmou em entrevista à Rádio Pelotense que o momento é “muito delicado” para o setor e pediu uma resposta rápida das autoridades. “Não é por problema de produção, mas sim de mercado, com preços muito abaixo do custo. Quando passamos a enfrentar um problema logístico, se agravam ainda mais. Não podemos deixar o porto de Rio Grande se transformar em um gargalo para o arroz da região sul”, alertou.
Segundo ele, a dificuldade atinge diretamente contratos de comercialização firmados para este mês. “São contratos de outubro em que há dificuldade de cumprimento. Gostaríamos que a solução acontecesse mais cedo, de forma mais rápida. Não podemos atrapalhar o processo de comercialização do arroz”, destacou.
Ações no porto
Nos bastidores, técnicos ligados à administração portuária admitem que o problema tem origem em uma soma de fatores, incluindo o aumento expressivo da movimentação internacional e uma sequência de quatro omissões de navios da Maersk, que deixaram volumes de contêineres acima da capacidade do pátio.
A avaliação é de que a situação é sazonal e tende a se normalizar nas próximas semanas, conforme novos embarques aliviem o estoque acumulado. Fontes próximas à operação afirmam que a previsão é de normalização até o fim do mês, com a retomada de janelas de três a cinco dias para entrega sem custo adicional.
O Tecon Rio Grande já iniciou obras para ampliar a área de recebimento de contêineres. Máquinas trabalham em um terreno contíguo ao terminal, onde é preparada uma base provisória de saibro. A expectativa é que a intervenção seja concluída até o fim da próxima semana. Em nota, a empresa responsável, Wilson Sons, informou apenas que “tem tomado diversas ações logísticas com o objetivo de ampliar sua eficiência e melhorar cada vez mais o atendimento a todos os seus clientes, indistintamente”.
Posição do Irga
O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) informou que, até o momento, não recebeu relatos diretos de produtores sobre o problema, mas que já busca informações junto à Federarroz. “Estamos buscando informações e já sinalizamos contato com a Federarroz para mais detalhes, para que possamos auxiliar na demanda do setor. Assim que tivermos informações mais concretas, enviaremos o posicionamento da presidência”, informou o instituto.
A sinalização reforça que há mobilização entre diferentes instâncias públicas e privadas para garantir que o escoamento do arroz volte à normalidade.
Impacto
Para o setor produtivo, o episódio reforça a necessidade de alinhar a infraestrutura à força da produção. “A eficiência da lavoura de arroz ficou grande demais em relação ao mercado brasileiro”, avaliou Rechsteiner. O Rio Grande do Sul responde por cerca de 70% do arroz consumido no país, boa parte escoada via porto de Rio Grande.
Nos armazéns e nas indústrias, o clima é de apreensão. Com margens reduzidas e preços em queda, o arroz gaúcho enfrenta um cenário em que qualquer atraso tem reflexo direto na rentabilidade.
O consenso é de que o problema é passageiro, mas exige velocidade na resposta. “O arroz gaúcho garante o abastecimento do país. O porto precisa garantir o caminho”, resumiu Rechsteiner.