A parceria que promove saúde e bem-estar

Corpo e Mente

A parceria que promove saúde e bem-estar

No Dia Mundial dos Animais, a relação que supera barreiras e promove saúde

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A parceria que promove saúde e bem-estar
Companheiros Lua e Martin (Foto: Jô Folha)

Uma cena clássica, quase cinematográfica, é a de um cão levando o jornal até seu tutor. Outro momento comum é a leitura acompanhada pelo pet deitado ao lado, entre goles de café e carinhos despretensiosos. Gestos simples, mas cheios de significado. No Dia Mundial dos Animais, celebrado em 4 de outubro, o Corpo e Mente dedica suas páginas a essa relação que, cada vez mais, é reconhecida pela ciência como promotora de saúde física e mental.

Um estudo do Human Animal Bond Research Institute (HABRI), nos Estados Unidos, aponta que 74% dos tutores relatam melhorias significativas em sua saúde mental graças à convivência com animais de estimação. A explicação está na liberação da oxitocina, o chamado “hormônio do amor”, que reduz o estresse e aumenta o bem-estar.

No Brasil, essa relação se multiplica em números: o país ocupa hoje a terceira posição mundial em população pet, somando entre 150 e 160 milhões de animais. Mais que companhia, eles são parte da família e fonte de afeto. Mas, junto aos benefícios, crescem também as responsabilidades.

Terapia que vem com lambidas e ronronar

74% dos tutores relatam melhorias na saúde mental (Foto: Divulgação)

Em Pelotas, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) mantém o projeto Pet Terapia, que atua com intervenções assistidas por animais em hospitais e instituições da região. Sob coordenação da Faculdade de Veterinária, a iniciativa reúne uma equipe multidisciplinar de professores, estudantes, profissionais da saúde e da educação.

Depois de um período desativado, o projeto foi retomado com força e novas propostas. Animais voluntários, como Bobby, Moa, Buana e Banzé, participam das visitas, sempre acompanhados por seus tutores e treinados para atuar em ambientes hospitalares. No Hospital Escola da UFPel, por exemplo, cães ajudam a humanizar o atendimento na Unidade da Criança e do Adolescente. Em cada encontro, constroem-se vínculos que vão além da simples recreação, oferecendo conforto e confiança para pacientes em tratamento.

Saúde mental e afeto compartilhado

Para a psicanalista e professora da UFPel, Camila Peixoto Farias, a presença de um animal de estimação pode ter impacto direto na prevenção e promoção da saúde mental. “A relação com os pets cria um espaço de vinculação, de troca de afetos, de construção de sentido para a vida. Isso pode organizar o cotidiano, gerar perspectivas de futuro e reduzir a solidão. São fatores que atuam como proteção psíquica e ajudam na prevenção de transtornos emocionais”, explica.

Mas, junto aos benefícios, Camila lembra que há responsabilidades. “O tutor deve compreender que o vínculo com o animal envolve cuidados básicos, desde alimentação até acompanhamento de saúde. É uma relação que demanda tempo, recursos e investimento afetivo. Sem isso, o risco é transformar o que deveria ser uma fonte de equilíbrio em sobrecarga”, completa.

A força da equoterapia

Michele está há 24 anos na profissão (Foto: Divulgação)

Se os cães e gatos ocupam lugar de destaque, os cavalos também se tornaram aliados da saúde. A equoterapia, prática que utiliza o cavalo em abordagens terapêuticas e educacionais, tem mudado vidas em Pelotas e região. A psicóloga Michele Teixeira Ferreira atua há 24 anos na área, com passagens por projetos na APAE e na Associação Rural, onde mantém hoje sua própria clínica de Equoterapia.

“Eu comecei com um saco de ração, minha égua e uma criança. Hoje atendo dezenas de praticantes, principalmente crianças com autismo, TDAH e paralisia cerebral. O movimento do cavalo ajuda no equilíbrio, coordenação motora e cognição, e a terapia é enriquecida com atividades lúdicas que envolvem psicologia, pedagogia e fisioterapia”, explica Michele.

Segundo ela, a equoterapia deixou de ser vista apenas como uma extensão da fisioterapia e vem ganhando reconhecimento como ferramenta integradora de diferentes áreas da saúde.

Lua e Martin: um elo de amor

(Foto: Jô Folha)

A relação de Martin Batista Rodrigues, 12, com a cadela Lua é um exemplo vivo do impacto positivo que um animal pode ter na vida de uma criança. Diagnosticado com autismo ainda pequeno, Martin enfrenta uma rotina intensa de terapias, fonoaudiologia, psicopedagogia, fisioterapia e terapia ocupacional.

Lua chegou como presente inesperado do avô e rapidamente se tornou parte essencial do cotidiano. “Desde filhote, ela se aproximou do Martin. Se ele está no quarto, ela deita junto. Se vai para o pátio, ela o acompanha. É companheira em todos os momentos”, conta a mãe, Aline Herbstrith Batista.

“Ele tem dificuldade motora de fala, mas quando chegou a hora de escolher o nome, pensamos junto com a fonoaudióloga em algo que ele pudesse pronunciar. E ele conseguiu dizer Lua. Foi emocionante”, lembra Aline. Hoje, entre afagos no sofá e caminhadas pelo quintal, Martin e Lua compartilham um vínculo silencioso, mas cheio de significados.

Uma escolha de afeto e responsabilidade

Pesquisa aponta que investir em pets está em alta (Foto: Divulgação)

Pesquisa inédita da Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box, reforça a relevância desse vínculo: 82% dos tutores brasileiros acreditam que os benefícios emocionais de ter um pet compensam os custos financeiros. O levantamento mostra ainda que:
65% estão dispostos a investir o que for preciso no bem-estar dos animais;

  • 70% consideram os pets como membros da família;
  • 39% optaram pela adoção;
  • 52% já priorizaram gastos com o pet em relação a despesas pessoais.

O especialista em educação financeira da Serasa, Thiago Ramos, ressalta que a emoção deve vir acompanhada de planejamento. “O amor pelos pets é enorme, mas é preciso organização financeira para garantir cuidados de forma responsável. Incluir um novo integrante na família exige preparo”.

Muito além da companhia

De acordo com a pesquisa, 89% dos tutores afirmam que seus pets melhoraram o bem-estar emocional, enquanto 92% dizem que ajudam a aliviar a solidão e o estresse. Ou seja, a presença animal ultrapassa o afeto e impacta diretamente a saúde.

E, neste Dia Mundial dos Animais, fica a lembrança de que esses companheiros, sejam eles cães, gatos, cavalos ou aves, representam muito mais do que fofura: são parceiros de jornada, promotores de equilíbrio e agentes de transformação na vida de milhões de pessoas.

O que é celebrado em 4 de outubro?

O Dia Mundial dos Animais teve início em Florença, em 1931, durante uma convenção de ecologistas. A data foi escolhida em homenagem a São Francisco de Assis, padroeiro dos animais e do meio ambiente.

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