A 99ª Expofeira Pelotas abre as porteiras na próxima segunda-feira, 6 de outubro, e segue até o dia 12, no Parque Ildefonso Simões Lopes. Um dos eventos mais tradicionais do agronegócio gaúcho chega à sua penúltima edição antes do centenário consolidado como vitrine da pecuária de excelência, mas também como espaço de integração entre o rural e o urbano.
Com 127 anos de história, a Associação Rural de Pelotas espera receber cerca de 100 mil visitantes durante os seis dias de programação, que inclui remates, julgamentos de animais, 90 expositores, agricultura familiar, gastronomia, palestras técnicas, arte e atrações culturais. Depois de uma década afastado, o produtor rural José Luiz Martins Kessler reassumiu a presidência da entidade em um mandato de seis meses. O retorno, explica, não tem caráter de reeleição em 2026, mas o objetivo de preparar a sucessão da ARP em um momento de grandes desafios.
Quais as novidades da 99ª Expofeira?
Estamos introduzindo um novo modelo de palestras silenciosas. Em vez de auditórios convencionais, teremos espaços harmonizados com lounges e cafeteria no antigo pavilhão do gado holandês, permitindo atividades simultâneas sem ruído. Também teremos apresentações culturais abrindo os remates, como o Grupo Tholl e um show especial.
Quais os maiores desafios para realizar a feira?
Enfrentamos desafios financeiros e estruturais. Trabalhamos com um orçamento para a feira de R$ 1,8 milhão e uma margem de lucro muito pequena. A Associação Rural não tem capacidade de investimento para modernizar e construir novos espaços, apesar da demanda. A cidade precisa de locais adequados para congressos, formaturas e grandes eventos, e a ausência dessa infraestrutura no parque é um problema.
Qual é o propósito da Expofeira?
Nosso papel é aproximar o público urbano do rural, desfazer ressentimentos e estigmas sobre o agronegócio. Queremos que a feira seja um espaço de diálogo, de congraçamento da comunidade, e que o parque permaneça como centro de encontro regional, aberto e receptivo.
Quais os desafios e as oportunidades do setor agropecuário regional?
Temos uma cultura marcada pela pouca cooperação. Experiências passadas, como as falhas de cooperativas de lã, frigoríficos e outras iniciativas, deixaram cicatrizes de desconfiança. Isso dificulta o associativismo e faz com que talentos formados aqui acabem buscando oportunidades fora da região. Por outro lado, temos uma genética de qualidade no gado, que é usada em cruzamentos em outras regiões, e segmentos como a vitivinicultura e a olivicultura vêm transformando o campo, agregando valor, turismo e gastronomia. O setor leiteiro ainda precisa de mais organização e sucessão, mas tecnologias como robotização e controle individualizado de vacas abrem novos caminhos.
O turismo rural é um caminho de futuro para a região?
Sem dúvida. A nova lei geral do turismo permite que produtores ofereçam serviços turísticos, o que abre oportunidades. Vamos realizar um seminário específico sobre turismo rural durante a feira, e investidores como Luiz Eduardo Batalha e Galvão Bueno já enxergam o potencial da nossa região. O exemplo da Fazenda Batalha, em Pinheiro Machado, mostra como integrar azeites, vinhos e cultura pode transformar o meio rural.
O que projeta para o futuro da Expofeira?
A ideia é criar um espaço urbano moderno e verde, comparável ao Parque Una ou Quartier, mas com uma abordagem ainda mais ecológica, incluindo áreas para ciclismo, passeios com animais, arborização, lagos e praças infantis, funcionando como um novo centro da cidade. Seria possível integrar uma parte histórica com pousadas ou hotéis, mesclando o passado com a modernidade.