Do campo aos negócios, mudanças da CBF impactam “ecossistema” do futebol

Revolução no calendário

Do campo aos negócios, mudanças da CBF impactam “ecossistema” do futebol

A Hora do Sul ouve opiniões a respeito dos efeitos provocados pelas novidades oficializadas na quarta-feira

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Atualizado sexta-feira,
03 de Outubro de 2025 às 11:05

Do campo aos negócios, mudanças da CBF impactam “ecossistema” do futebol
Três das quatro divisões nacionais foram afetadas diretamente: A com novas datas, C e D com novos formatos (Foto: Rafael Ribeiro - CBF)

A revolução no calendário anunciada na quarta-feira (1º) pela CBF surge como a mais drástica novidade no futebol nacional desde o início do século, quando a entidade adotou o formato de pontos corridos no Brasileirão. É essa a opinião do estatístico e comentarista da Rádio O Povo/CBN, de Fortaleza, Thiago Minhoca, uma das vozes ouvidas pela reportagem para trazer opiniões a respeito do assunto.

Três das quatro divisões nacionais foram afetadas diretamente: A com novas datas, C e D com novos formatos. “Era um movimento necessário. Há muito tempo se debatia e várias propostas tinham sido colocadas pela CBF. Mas nenhum dos presidentes anteriores teve essa ousadia de fazer essa mudança. Estavam presos ao status quo das federações”, analisa.

Sob a ótica de Caldenei Gomes, comentarista da Rádio Pelotense 99,5 FM, a diminuição do número de jogos para os times maiores não foi tão significativa quanto deveria. Já para os menores, Caldenei vê as disputas nacionais como caminho. “Cada vez mais, e com a redução dos estaduais, estar em competições nacionais significa a sobrevivência dos clubes, a possibilidade de mobilizar sua torcida e comunidade”, avalia.

Calendário dos menores

Centroavante do Pelotas, Cristiano chegou à Boca do Lobo em setembro após o fim da participação de seu ex-clube, o Ypiranga de Erechim, na Série C. Ele pondera que as novidades no calendário serão vantajosas para uma parcela de equipes, porém manifesta preocupação sobre um problema antigo: o calendário dos times de patamares inferiores.

“É muito cedo para falar, porque vai ser a primeira vez. Mas uma coisa bem ruim é o curto período que os clubes de menor porte têm de atividade, principalmente quando não têm uma competição. Estava disputando a Série C e a gente [Ypiranga] entrou de férias, por não classificar, faltando quatro meses para o ano acabar”, afirma.

Com um acréscimo gradual até 2028, a terceira divisão passará a contar com 28 clubes. Atualmente são 20. A Série D, por sua vez, irá de 64 para 96 já em 2026. Por outro lado, os estaduais tiveram diminuição de datas: 11, ocorrendo entre 8 de janeiro e 11 de março do próximo ano, em grande parte de forma simultânea à Série A, que iniciará em 28 de janeiro e irá até dezembro.

Estaduais como “futura Série E”

O economista Fernando Ferreira, sócio fundador da Pluri Sports, empresa de consultoria parceira do Brasil no processo da SAF, enxerga uma segmentação do calendário em geral, com os mais ricos focados nos campeonatos de elite, e define a Série B como uma “ganhadora” das alterações nas séries C e D. “Valorizará muito nos próximos anos. Logo será bem rentável, e liberará a CBF para financiar melhor a Série C e, principalmente, a D”.

Para Caldenei Gomes, o encurtamento dos estaduais fortalece um caminho já traçado. “Eles só não desaparecem porque é um produto que interessa às federações, que como se sabe, dão uma sustentação política à CBF, tanto na hora do voto quanto ao longo da gestão”. Tanto o comentarista da Pelotense quanto Fernando Ferreira convergem a respeito de um aspecto: será mais fácil para os menores ganharem títulos estaduais, já que os maiores darão atenção à Série A.

“O gradual distanciamento entre os clubes maiores e menores no estadual é a antessala da transformação dos estaduais em futura Série E. Nesse sentido as copas regionais suprirão a lacuna dos estaduais”, projeta o economista da Pluri. Ferreira também elogia a final da Copa do Brasil em jogo único, do ponto de vista comercial; e a criação de copas regionais como a Sul-Sudeste, funcionando como outro meio de clubes de menor escalão lutarem por títulos, já que os participantes da Libertadores e Sul-Americana estarão fora. Por outro lado, vê a Série C desvalorizada pelo acréscimo no número de integrantes.

Efeitos imediatos

Beneficiado com vaga na Série D, o Brasil viu seu futuro breve mudar. “Mesmo que a competição não comece nos primeiros meses do ano, vai ser preciso que se contrate jogadores, que se estabeleça o vínculo, e esses jogadores, já com vínculo com o Brasil, joguem a primeira divisão [estadual] e depois retornem”, diz o gerente de futebol, Hélio Vieira.

A tendência é que a Série A-2 do Campeonato Gaúcho de 2026 ocorra entre agosto e novembro. Com a Série D do Brasileirão sendo disputada de abril a setembro, o Xavante pode ter calendário durante quase todo o ano. Há chance do Lobo seguir o mesmo roteiro, mas para isso precisa conquistar a Copa Professor Ruy Carlos Ostermann.

“Acredito que a mudança vai favorecer muitos times, por ter uma competição nacional, um aporte financeiro diretamente da CBF para se reorganizar e poder planejar o ano. É interessante ter um ano de calendário. Traz patrocínio, mais receitas, torcedores, e o clube só cresce”, analisa o centroavante Cristiano.

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