Às vésperas da Terceirona, Rio Grande resiste e luta para seguir em atividade

Mais antigo do país

Às vésperas da Terceirona, Rio Grande resiste e luta para seguir em atividade

Após participar de competições estaduais de base, Vovô mira retorno à Série A-2 do Gauchão

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Às vésperas da Terceirona, Rio Grande resiste e luta para seguir em atividade
Estádio Arthur Lawson, com seu famoso letreiro, não receberá partidas pela segunda temporada seguida (Foto: Jô Folha)

Para o Sport Club Rio Grande, manter-se em atividade é um esforço que significa honrar o próprio legado, parte fundamental da história do futebol brasileiro. Fundado em 19 de julho de 1900 e campeão gaúcho em 1936, o mais antigo time do país luta para não perder a distinção, dada em 1975 pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD, hoje CBF). Em meio às dificuldades financeiras, o Vovô resiste e aposta na base para disputar a terceira divisão estadual, para onde caiu em 2015 e não saiu mais. A estreia é neste domingo (28).

A primeira partida do Tricolor será contra o rival Riograndense, no Torquato Pontes, a cerca de 850 metros de caminhada do estádio Arthur Lawson, casa do Mais Velho. E é justamente no Colosso do Trevo que o Rio Grande mandará suas partidas também como mandante na Terceirona pela segunda temporada seguida. O Arthur Lawson segue impedido de sediar partidas e, apesar da provável liberação em breve, a questão econômica torna mais barato alugar o estádio do Guri Teimoso.

A sede do Rio Grande possui 26 hectares, mas grande parcela não é usada. O clube social já teve milhares de sócios usufruindo da estrutura. Atualmente, são cerca de 70. A piscina térmica até funciona, porém a água só aquece até 28 graus. Recentemente, a caldeira estragou e um vendaval causou danos. “Investiram e nunca fizeram manutenção. Tinha muitos sócios, chegou a ter três mil. Entrava, entrava, mas se gastava e não tinha manutenção. E aí a conta veio”, diz o vice-presidente Claudio Santana.

Desde 2019 no clube, o dirigente lamenta a imprevisibilidade orçamentária. Há o temor de investir na estrutura por meio de um empréstimo, por exemplo, e não existir a “resposta” em volume de associados. Santana conta que a partir de outubro o número de sócios aumenta, entretanto o Carnaval costuma encerrar a temporada de veraneio. “Tudo é muito caro. Depende da entrada do dinheiro dos sócios. Mas hoje ninguém mais quer ser sócio e ficar pagando. O pessoal usa que nem academia: nesse mês vem, paga; se não vem, não paga. A gente nunca sabe o que vai entrar”, explica.

Terreno do clube tem 26 hectares, mas grande parte da estrutura não vem sendo usada (Foto: Jô Folha)

Estádio, base e custeio

Localizado no terreno do Rio Grande, o estádio Arthur Lawson não recebe um jogo de competição profissional desde 22 de outubro de 2023. O Plano de Proteção e Prevenção Contra Incêndios (PPCI) está vencido. A direção tenta atualizá-lo, no entanto encara desafios. “Queriam que nós desmanchássemos um metro da arquibancada próximo do banheiro. São coisinhas que trancam. Por último, a Brigada queria um sistema fechado de TV aqui dentro. Digo ‘não, vocês não estão no Maracanã’”, afirma o vice-presidente.

Nesse cenário, a casa do Vovô serve como espaço de treinos para as equipes de base, que se sustentam com forte participação dos pais dos atletas e ajuda de ações entre amigos. O Tricolor disputou as segundas divisões dos estaduais sub-17 e sub-20, eliminado em ambas na primeira fase e tendo jogado como mandante no Torquato Pontes. Para a Terceirona, o treinador é o mesmo das últimas temporadas, Claudio Junior, filho de Santana, e que também dirigiu o sub-20 na Série A-2 do Gauchão, cuja primeira fase terminou no domingo passado.

“Temos bons contatos, de anos, de indicação de atletas, de dentro e fora do Rio Grande do Sul, da região metropolitana e até atletas de outros países. Boas parcerias com clubes aqui do estado para conseguir fazer um elenco forte e competitivo”, avalia Junior. Ele contará com vários jovens da base no elenco da Terceirona. Se somarão a eles nomes como o lateral Hiago Lucas, emprestado pelo Guarany de Bagé, o meio-campista colombiano Jhon Castrillon e o atacante paraguaio Brian Ayala.

A terceira divisão do futebol gaúcho é sub-23, e a FGF permite apenas três atletas nascidos antes de 2002 por partida. Até a publicação desta matéria, o Rio Grande oficializou três que se encaixam nesse quesito: o zagueiro Leonardo Salles e os meio-campistas Toddy e Higor Rosa, todos com 26 anos e naturais da cidade. Os trâmites para inscrever jogadores também custam caro. Mesmo com a federação bancando 25 “fichas”, o que reduz o custo em cerca de R$ 800 por atleta, o valor de um contrato pode chegar a R$ 2 mil.

“Somos um patrimônio, temos direito a museu, todos nossos troféus são etiquetados”, diz o vice-presidente Claudio Santana (Foto: Jô Folha)

Sem se licenciar

Toda a luta para garantir a participação do Rio Grande em competições profissionais tem um contexto de polêmicas e cobranças. O Vovô solicitava indenização de R$ 50 milhões à Ponte Preta pelo fato do clube paulista, fundado em agosto de 1900, ter utilizado a marca de mais antigo do Brasil. Decisão judicial obriga a instituição de Campinas a pagar R$ 2 milhões ao Tricolor. Em agosto, esse valor foi bloqueado das contas da Ponte até a quitação do débito. Não há previsão, entretanto, para a efetivação dessa burocracia e o pagamento.

Claudio Santana diz que é essa a maior motivação do trabalho no Arthur Lawson. A seu lado na direção, para o biênio até 2026, estão o presidente Getulio Goulart Menezes e o vice de patrimônio José Edi Colvara, empossados em 2024. “A gente não pode não jogar. Com todos os problemas, se eu pudesse me licenciar dois anos do profissional e fazer um time forte na base, e depois voltar com um time forte, seria o ideal. Só que a gente não pode se licenciar, se não perde o título de mais antigo”, argumenta.

De acordo com o dirigente, a titulação marcante para o futebol nacional dá ao clube o direito de sediar um espaço dedicado à história do esporte. “Tem que ser uma honra para o estado do Rio Grande do Sul e a Federação Gaúcha. Somos um patrimônio, temos direito a museu, todos nossos troféus são etiquetados. A Secretaria de Cultura do Estado e a CBF nos deram o direito de abrir um museu do futebol aqui. Só que não temos dinheiro”, diz.

O Rio Grande não tem patrocinadores e a receita mensal gira em torno de R$ 15 mil. Um boleto de arbitragem para uma partida da Terceirona custa mais de R$ 3 mil, por exemplo. Mas o que faz o Mais Velho continuar em frente? “O futebol é uma cachaça. Uma hora o cara cansa. […] Se eu largar o futebol hoje aqui, acaba”, afirma Claudio Santana.

Elenco do Rio Grande

Goleiros
Jair César
Anthony Machado
Bryan Borges

Zagueiros
Léo Salles
Oscar Gamarra
Erick Alves
Pedro Borges
Lucas Ribeiro

Laterais
Hiago Lucas
Antonio Geovan
Dalessandro André
Gustavo Hipólito

Meias
Matheus Lemons
Ederson Rodrigues
Toddy
Higor Rosa
Jhon Castrillon
Álvaro Martin
Thiago Vinícius

Atacantes
Isaac Silva
Brian Ayala
Rian Quintana
Lucas Maracá
Fabrizio Reis
Gabriel Peres
Vitor Ricardo

Terceirona Gaúcha

1ª rodada

Grupo B

Sábado (27)
15h | São Paulo x São Gabriel

Domingo (28)
15h | Riograndense x Rio Grande

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