No Rio Grande do Sul para os ensaios da récita de Il Trionfo del Tempo e del Disinganno, obra de Friedrich Händel, a soprano Carla Domingues, foi convidada para integrar a programação de aniversário do Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas, ocorrido ontem. Nascida em Pelotas, passou a infância em Canguçu e retornou à terra natal para cursar o Ensino Médio e o Ensino Superior. É egressa do Bacharelado em Música – habilitação em Canto, da UFPel e doutora em Música pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Tem atuado como solista em recitais, concertos e óperas no Brasil e no exterior e ainda trabalha como professora na Escola de Música da Camerata Florianópolis, onde coordena o projeto Prática de Ópera.
Desde 2008 estás radicada em Santa Catarina, a forte cena operística daquele estado foi o que te atraiu?
Como lá, na Udesc tem um curso de Música, mas não tem bacharelado de canto, o mercado para aula de canto é muito bom. Quando eu fui para Santa Catarina, no ano que eu me formei, foi o primeiro ano que eu fiz um concurso de canto que tinha lá em Florianópolis, o Aldo Baldin. Inclusive, agora foi lançado um filme sobre o Aldo Baldin, um tenor de Urussanga, que fez uma carreira internacional. O concurso era responsável por escolher elencos para uma ópera específica. Em 2006, era a ópera Rigoletto de Verdi, e aí eu passei. Em 2008 me mudei para lá, no início do ano para fazer o mestrado, fiz o concurso para O elixir do amor, de Donizetti, foi a segunda montagem que eu fiz com eles. Comecei, nesse mesmo ano, o projeto Rock’n Camerata, da Camerata Florianópolis, que foi o projeto que me alavancou.
Tu és também professora de canto por lá?
Sim, eu gosto muito de dar aula. Acho que isso eu herdei da Magali (Richter, diretora do Conservatório e ex-professora da soprano). Porque ela disse que eu sou a filha musical dela. E a Magali é um ser humano fenomenal. Muitas vezes eu pensei em desistir, era muito difícil para mim e ela sempre segurando a minha mão, me incentivando. Ela me ensinou que a gente tem que ter um trato com os alunos, porque o canto vai muito mais além do que simplesmente ensinar um monte de escalas, vocalizes e dar repertórios. Canto é a tua essência, canto é a tua alma, se tu tás insatisfeito, se não estás motivado, vai transparecer na tua arte.
Tu participaste do Festival Tri Ópera promovido pela Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul, em agosto, como foi?
Sim. Esse ano eu fiz bastante coisa no Rio Grande Sul. Eu fiz, em maio, um trabalho muito legal com a Ospa. Foi a convite do maestro Manfredo Schmiedt, que me chamou para fazer um concerto que é muito raro de ser executado no Brasil, que é o concerto para soprano coloratura e orquestra, ópus 82, de Glière. Ele tem dois movimentos, que duram mais ou menos uns 15 minutos. Foi conhecido por ser um concerto bem virtuoso e foi um presente para minha carreira. Fui e voltei a conversar com o pessoal e tudo mais, já estava como associada da CORS. Quando eu vi que ia ter o Festival (em agosto), eu estava com a data livre e fui. E foi bem legal.
Foi a primeira vez que tu cantou com a companhia de ópera?
Sim, com a Cors foi a primeira vez. Não tinha feito nada com eles ainda não. Mas já estava contratada para fazer. Então agora em outubro eu volto para fazer uma ópera de Handel que já está sendo preparada, que é Il Trionfo del Tempo e del Disinganno. E inclusive esse final de semana estou aqui porque já fui ensaiar também. É uma ópera um pouco complexa. Vai ser 18 e 19 de outubro. E depois tem uma outra récita que vai ser dia 24.
E como é que tu vê esse momento da ópera aqui no Rio Grande do Sul?
Eu estou muito, muito feliz de não só de fazer parte da Cors, mas de saber de todas as movimentações, de acompanhar todas as movimentações. Quando eu estudava no Conservatório, quando a gente almejava cantar no Rio Grande do Sul, só tinha a imagem da Ospa. Eu acho que agora é um outro horizonte que se tem. Acho que isso é um incentivo muito grande para quem está estudando canto, que pode ver mais proximamente a oportunidade de estar no palco.