O comércio de Pelotas começou de forma tímida a celebrar o 20 de setembro, Dia do Gaúcho, comemorado no sábado. Diferentemente dos anos anteriores à pandemia, são poucas as vitrines enfeitadas com motivos tradicionalistas, predominando as lojas de grandes redes gaúchas nos setores de eletrônicos e eletrodomésticos. Alguns estabelecimentos montaram espaços para cultuar as tradições, mas sem a presença de atendentes pilchados. Para lojas de artigos gauchescos e correarias, a tendência é que, até o sábado, o comércio se engaje mais na essência do tradicionalismo, incrementando a venda de trajes típicos.
Com o lançamento oficial das comemorações da Semana Farroupilha 2025, no domingo, pela 26ª Região Tradicionalista, e com diversas atividades programadas para a Associação Rural de Pelotas (ARP) no final de semana, além das tertúlias nos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), a expectativa é de que o consumo de artigos aumente ao longo da semana. Segundo pesquisa da Universidade Feevale, realizada entre 2023 e 2024, as festas tradicionalistas representam impacto de R$ 34,6 milhões para os municípios gaúchos.
Na área central de Pelotas, algumas lojas apostam nos artigos de churrasco e chimarrão como destaque na entrada dos estabelecimentos. Conforme os atendentes, os itens mais procurados são garrafas térmicas e churrasqueiras portáteis. Nas lojas de eletrodomésticos, as chamadas são para fogões a lenha, poltronas e churrasqueiras. Já nas de eletrônicos, as referências ao tradicionalismo aparecem em vídeos transmitidos em grandes telões.
Para a tradicional Correaria Padilha, que há 95 anos atua em Pelotas, setembro é considerado o mês de safra, quando as vendas praticamente dobram em comparação aos demais meses do ano. De acordo com Laerte Soria Leite, 71 anos, que há 54 trabalha no local, os artigos mais procurados são as roupas infantis, impulsionadas pelas atividades escolares que resgatam a tradição gaúcha. “A criança compra este ano e, no próximo, já precisa de outra pilcha. Isso movimenta muito o comércio”, destaca.
Os pais de Antônio e Helena aproveitaram algumas peças do ano passado para compor os trajes dos irmãos. O vestido de prenda é novo e deve servir para o ano que vem. Já a bombacha foi adquirida de conhecidos que resolveram passar a peça adiante. A alpargata e a boina são novas e também serão guardadas para o próximo ano.
Além do vestuário infantil, cresce a procura por itens de selaria e acessórios para quem participa de desfiles e cavalgadas. No entanto, o maior volume de vendas está mesmo na linha de bombachas. “Hoje o grande mercado é a pilcha, especialmente a infantil. A bombacha reta, lisa, é a preferida. Já os modelos com a tradicional ‘casinha de abelha’ ficaram mais restritos”, explica o empresário.
No segmento feminino, a loja aposta em saias e camisas, sem trabalhar com o tradicional vestido de prenda. Entre os calçados, botas e alpargatas são os destaques, especialmente porque ganharam versões mais modernas e confortáveis. “Hoje temos solado em gel, bem semelhante ao de um tênis. A pessoa compra para usar na Semana Farroupilha e depois leva para o dia a dia”, acrescenta Laerte Soria Leite Júnior, 32 anos, que acompanha a trajetória do pai no comando da correaria.
Para todos os dias
Segundo os comerciantes, a pilcha deixou de ser apenas a indumentária do homem do campo para se tornar parte do vestuário urbano. Com tecidos de sarja e elastano, cortes de alfaiataria e calçados adaptados, a tradição se renova sem perder sua essência. “Nossa loja tem 95 anos, mas segue acompanhando as mudanças. O importante é que o cliente se sinta confortável e mantenha viva a tradição”, conclui Laerte.
Ganha Ganha para incrementar o comércio
O coordenador da 26ª Região Tradicionalista, Márcio Corrêa, observa que a tradição de trabalhar pilchado durante a Semana Farroupilha vem se perdendo e acredita que a campanha do governo com o Ganha Ganha Farroupilha, identificada em algumas lojas da cidade, seja uma ferramenta de resgate dessa prática. “Além de oferecer descontos e prêmios através da nota fiscal, os empreendedores entram no espírito dos festejos. Em Pelotas, a CDL e o MTG, através da 26ª RT, são parceiras para fomentar nossa cultura”, destaca.