Às vésperas de completar 107 anos, o Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas adota uma “outra roupagem” para o novo ciclo que se aproxima. Quem passa pela rua Padre Anchieta, pode perceber que o prédio histórico começa a se destacar pela pintura, seguindo o programa de restauro iniciado há três anos e que está na terceira fase. Exibindo suas cores originais, em bege claro (marfim) e ocre, o casarão de 190 anos retoma a sua beleza.
A terceira etapa do restauro do Conservatório está sendo executada com recursos da Lei de Incentivo à Cultura estadual. O projeto é da Santa Fé Produtora & Patrimônio e esta fase foi contemplada com o valor de R$1.480.593,16. O projeto surgiu a partir de parceria entre a UFPel, a Associação dos Amigos do Conservatório de Música (Assamcon) e a Santa Fé, em 2022.
Uma minuciosa intervenção

(Foto: Jô Folha)
Para definir a nova paleta de cores, a equipe técnica – composta pelo arquiteto Lessandro Rosa e as conservadoras Flávia Faro e Isabel Halfen Torino – realizou uma análise estratigráfica. A diretora de Marketing da Santa Fé Produtora & Patrimônio, Flávia Homrich Kuhn, explica que essa descoberta foi possível por meio de aberturas de janelas de prospecção nas paredes.
A partir desse estudo foi possível examinar as camadas de tinta e identificar a coloração original, revelando tons que estavam escondidos há anos. Os restauradores chegaram até a camada acima do reboco. A partir das cores que foram encontradas ali foi possível estabelecer os tons mais aproximados. Entretanto, não há como identificar o período dessa antiga coloração.
A restauração também trouxe à luz ornatos que haviam sido ofuscados por múltiplas camadas de tinta, o trabalho está recuperando a profundidade e contraste dos adornos externos. A fachada da rua Padre Anchieta foi pintada com tinta mineral à base de silicato, um material recomendado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para edificações de valor histórico.
Agora será pela Sete
Ontem começaram a ser desmontados os andaimes da rua Anchieta para serem instalados pela Sete de Setembro e dar sequência à pintura desta fachada. A previsão é que o trabalho seja concluído ainda neste ano, devolvendo à comunidade um prédio revitalizado e em conformidade com as normas de preservação do patrimônio histórico. “A previsão era finalizar em novembro, mas a chuva está atrapalhando bastante o cronograma. Até final do ano entregamos”, ressalta Flávia.

(Foto: Jô Folha)
A pintura mais recente das paredes externas do casarão tinha ocorrido em 2010, quando as instalações ainda eram divididas com o Sanep. Essa ação foi realizada como parte de um projeto de revitalização dos prédios da autarquia municipal. O que explica a escolha pela cor azul, referência da entidade.
Outras obras
Ainda nesta terceira etapa o telhado auxiliar, que fica sobre os banheiros, foi reformado. Também está sendo finalizada a instalação de um banheiro com acessibilidade, que fica no piso superior, o que não é problema, porque na fase anterior o solar foi contemplado com um elevador. “Ficou muito bom, agora temos como receber as pessoas que necessitam de acessibilidade. Elas podem ir prestigiar os eventos do Conservatório”, fala a diretora da entidade, professora Magali Richter.
A diretora do Conservatório diz que é uma alegria ver o prédio em fase final de restauro. “Estamos felizes e satisfeitos. Esse foi um sonho muito sonhado, por nós do Conservatório e pela comunidade também, que está se realizando”, comenta.
No próximo ano a parceria com a Santa Fé Produtora vai continuar. De acordo com Flávia, o novo projeto irá contemplar o Salão Milton de Lemos. A proposta envolverá cadeiras, teto, reforma de madeiramento e aquisição de equipamentos, entre outros detalhes.
História de um palacete
O prédio do Conservatório, órgão suplementar do Centro de Artes da UFPel, foi tombado como Patrimônio Histórico do Município em 1985, do Estado em 2004 e Nacional em 2018, o que garante a sua preservação e permanência como parte fundamental da história e memória de Pelotas. Construído entre 1832 e 1835, pelo Visconde de Jaguari, charqueador de prestígio, foi um dos primeiros no estilo eclético.

Prospecção feita pelos restauradores apontou que os ornatos anteriormente tinham a cores mais escura (Foto: Jô Folha)
A fundação do Conservatório de Música ocorreu em 4 de junho de 1918. Porém a inauguração, data em que se celebra o aniversário, aconteceu em 18 de setembro do mesmo ano.
FASES DO RESTAURO
- 2024 – 2º Fase
Foram restauradas as aberturas (portas e janelas) e sacadas, também, construída rampa de acesso e instalado elevador. Projeto iniciado em janeiro finalizado em outubro, via Lei de Incentivo à Cultura (LIC), com recursos de R$ 1.205.086,20.
- 2022/2023 – 1º Fase
Restauro da cobertura com colocação de telhas portuguesas tipo capa canal e a conservação curativa e restauração de partes faltantes das fachadas do sobrado. Obra contemplada pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC) do Estado do Rio Grande do Sul, no valor de R$1.264 milhão. Os recursos foram captados via incentivo fiscal deduzido do ICMS de empresas do município.