A parceria entre as prefeituras de Pedro Osório e Cerrito e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) avança na prevenção de desastres climáticos. Nesta segunda-feira (8), exatamente dois anos depois da grande elevação do Rio Piratini, foi entregue o mapeamento aéreo das áreas urbanas, que fornece imagens detalhadas, produzidas com uso de drone, para o monitoramento das cheias e para políticas públicas futuras.
O modelo digital de terreno faz parte do projeto Sistema Integrado de Previsão Hidrológica em Tempo Real e Alerta Antecipado, que recebeu R$ 80 mil por meio de um edital da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapergs), e busca orientar o planejamento urbano, o monitoramento ambiental e as ações de defesa civil. O projeto também foi contemplado com R$ 1,5 milhão, dentro do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento voltado a Desastres Climáticos, do Plano Rio Grande, com liberação dos valores em 27 de março deste ano.
As equipes do Núcleo Integrado de Previsão (NIP) da UFPel realizam o monitoramento do Rio Piratini desde março de 2023, com o início das aplicações práticas na enchente de setembro do mesmo ano. Essa inundação foi provocada por um acumulado de chuva superior a 155 mm em Pedro Osório. O rio subiu rapidamente e atingiu os 14 metros, deixando centenas de famílias desalojadas.
A partir dos modelos criados, as cidades passam a ter acesso à real dimensão dos territórios, o que é pioneiro em cidades do interior, principalmente do Rio Grande do Sul, segundo a professora da UFPel e membro do NIP, a engenheira cartógrafa Diuliana Leandro. “Esse produto foi gerado para a nossa necessidade de mapeamento com qualidade, mas o produto não vai servir só para isso. Ele tem uma série de possibilidades posteriores”, afirma.
No evento, que aconteceu no auditório do Colégio Municipal Getúlio Vargas, de Pedro Osório, estiveram presentes representantes dos dois municípios, o chefe da Casa Militar e coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil, Luciano Boeira, a secretária extraordinária de Relações Institucionais do Estado, Paula Mascarenhas, o coordenador da Defesa Civil Regional, Márcio Facin, e integrantes da comunidade acadêmica.
Nova tecnologia
O sensor LiDAR, acoplado a um drone, registra o tempo de retorno de cada pulso emitido por laser e calcula a distância percorrida para criar modelos 3D de ambientes.
Aplicado à batimetria, que é o detalhamento do fundo dos rios, o LiDAR permite avaliar riscos em zonas de inundação, como é o caso do Rio Piratini. “A informação chega no formato de fotos sobre o terreno juntamente com a classificação desses elementos e a questão da altitude, que, para os projetos, é o mais importante; é isso que permite fazer os mapeamentos de risco”, explica a coordenadora do NIP.
Antes da utilização do equipamento, os pesquisadores realizaram o mapeamento de 3,6 mil pontos. Com o incremento do LiDAR, as coletas avançaram em menos tempo e resultaram em 4 bilhões de pontos mapeados. “Isso nos permite saber em que cota a água vai ficar em cada evento de chuva e realizar a simulação de cheias, o que permite o planejamento de ações com antecedência”, diz Samuel Beskow, professor da UFPel e integrante do NIP.
Múltiplas aplicações
O mapeamento entregue pelo NIP às prefeituras de Pedro Osório e Cerrito integra diversas informações, que poderão servir de base para tudo que envolve o planejamento dos municípios, para além das questões climáticas. “Para fazer um plano diretor conhecendo realmente o terreno e não ficando no campo do achismo. Pode servir para a parte de obras, inclusões em editais como o PAC, favorecendo o desenvolvimento da região”, destaca Diuliana.
A coordenadora do NIP, a hidróloga e professora da UFPel, Tamara Beskow, ressalta que o produto é a materialização de uma parceria entre universidade e poder público, que tende a consolidar, cada vez mais, a importância de se conhecer o território para questões além da gestão. “Com isso, as prefeituras entendem que a ciência não é inimiga da gestão pública, e sim uma aliada”, diz.
“Esse modelo digital de terreno vai ser um salto tecnológico para os municípios com cartografia de qualidade”, acrescenta Diuliana Leandro sobre o pioneirismo da Zona Sul com o uso do equipamento.
Cenário de otimismo
O chefe da Casa Militar e coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil, Luciano Boeira, destaca que o monitoramento nas duas cidades da região Sul é um “case de sucesso” a ser explorado e ampliado para todo o Estado. “O trabalho que vem sendo produzido pela UFPel nos deixa otimistas com o futuro. Em breve estaremos entregando esse mesmo produto para todo o Rio Grande do Sul. Estabelecemos o compromisso de buscar alternativas para ampliar a atuação do NIP”, afirma.
A política de gestão integrada também é reforçada pelo coordenador estadual como uma forma de aproximar a academia do poder público e, assim, da comunidade. Além disso, reforçou que as prefeituras busquem trabalhar mais fortemente seus planos de contingência.