Durante o período das enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul, o voluntariado ganhou destaque. Pessoas comuns que saíam de suas casas para oferecer apoio prático e emocional para aqueles que haviam sido afetados pelo desastre climático.
Entre as iniciativas, os abrigos para animais foram ganhando notoriedade nas cidades gaúchas, após os diversos relatos de alguns sendo deixados para trás durante a saída das famílias das áreas atingidas pelas águas.
Em Pelotas, o abrigo para animais na sede da Associação Rural chegou a acolher 400 animais, em cinco pavilhões, durante o período. Para auxiliar a todos, médicos veterinários, ativistas pelas causas animais e pessoas que sensibilizaram-se com a situação, passaram dois meses dedicando parte de seus dias em prol dos animais recolhidos. Esse foi o caso da Ândrea Daneris, estudante de odontologia, que contou sua experiência e o que isso deixou de aprendizado, no programa Papo da Hora, da Rádio Pelotense.
Como começou o trabalho no abrigo?
Queria ajudar de alguma forma, então o primeiro intuito foi buscar um abrigo para pessoas, felizmente estavam todos lotados e tinha bastante gente ajudando. Acabamos [Ândrea e o namorado] chegando na Associação Rural sem querer, para saber o que estava acontecendo ali e o abrigo ainda não tinha sido aberto. No outro dia, quando abriu, foi o primeiro dia e acho que chegou uns 70 animais. Em um primeiro momento, chegava qualquer tipo de animal. Eu gostava muito de bichos, já tinha cachorros, mas não tinha o trato com os animais e o primeiro pelo qual fiquei responsável foi um pitbull e eu descobri que eles eram um doce. Eles chegavam muito assustados e ali a gente percebeu o quanto eles eram apegados aos donos e, ao serem deixados, demonstravam seus sentimentos.
Como era a rotina?
Foram dois meses inteiros no abrigo. Eu ia todos os dias para o abrigo. A gente chegava, limpava e passeava com os animais. Quando os animais chegavam ali, eram avaliados por veterinários para avaliar se estavam bem de saúde, já que uns eram resgatados de dentro da água. Trabalhávamos correndo o dia inteiro para chegar a tardinha e ter a hora do carinho, que era o nosso momento com eles, principalmente os que estavam mais carentes.
Como era tua relação com a causa animal até aquele momento e o que mudou agora?
Desde pequena eu já gostava de animais. Morava em uma casa com bastante espaço, então tive todos os tipos de animais que podia, mas como eu me descobri depois das enchentes, eu não percebia que esse amor era tão forte. Foi uma época difícil, porque mudou nossa vida, mas o contato com os animais me mudou como ser humano.
Que história de adoção mais te marcou?
As pessoas chegavam e pediam algumas especificações, principalmente quem morava em apartamentos e só poderia adotar animais pequenos. Mas teve o caso de um casal, que me disseram que gostariam de adotar o cachorro menos provável de ser adotado. Foi uma choradeira entre os voluntários naquele dia, porque o escolhido foi o Brutus, que era um cachorro enorme e muito carinhoso, muito difícil de ser adotado pelo tamanho, mas foi. Muitos encontraram os amores das suas vidas nesses cãezinhos.