Olhar para o cofre

Editorial

Olhar para o cofre

Olhar para o cofre
(Foto: Jô Folha)

É comum, embora inaceitável, uma administração pública precisar quitar dívidas das gestões anteriores. Embora Pelotas tenha, como muitas cidades, sofrido os duros golpes que os últimos anos entregaram às gestões municipais, como uma pandemia, enchente e as mudanças de regras absurdas nos repasses em 2022, é extremamente complicado ter que gerir uma cidade endividada já de início. Se sabia que o cenário seria assim, e tanto Marroni quanto os outros candidatos buscaram o cargo de prefeito com total noção do que viria. Ainda assim, a realidade é sempre dura de encarar.

A raiz do problema está sobretudo na péssima distribuição de recursos que o Brasil adota. A vida acontece nos municípios e, ainda assim, eles recebem só uma fração da verba pública federal. Com crises constantes como na última década, tudo fica ainda pior com tamanha discrepância. Chegamos ao ponto de ver a cidade atrasando salários. Agora, a gestão adota um regime de austeridade, segundo o secretário da Fazenda, Fábio de Souza Silva, em entrevista ontem à Pelotense. É elogiável. Mas também é um aviso de que o cidadão não pode esperar investimentos pesados com recursos municipais para o futuro próximo.

A principal frase da entrevista do secretário soa até óbvia, mas é fundamental em gestão pública. Qualquer cidadão acende seu alerta quando no fim do mês vê que gastou mais do que recebeu. Ainda assim, esse é um pensamento raro no âmbito público. É, inclusive, essencial que se reforcem mecanismos que impeçam isso. Eles existem, mas a situação segue ocorrendo. Ou seja, não funcionam com perfeição.

O remédio amargo vai ter que ser tomado nos próximos anos, que é ter uma cidade com controle rígido e absoluto de despesas, em busca de um fôlego para investimentos futuros. Pelotas não pode correr risco de deixar de pagar salários ou de prestar os serviços essenciais. Mas o cenário de hoje serve como um alerta gritante para o futuro. É preciso alinhar despesa e arrecadação, mas também é preciso que as cidades tenham mais fôlego dentro do pacto federativo. A responsabilidade é o primeiro fator dessa discussão, mas a divisão injusta deve ser discutida logo na sequência.

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