Mais um retorno para casa após cheia do Arroio São Lourenço

Clima extremo

Mais um retorno para casa após cheia do Arroio São Lourenço

Para as últimas dez famílias, das 37 que foram para abrigo comunitário, o dia foi de contabilizar as perdas

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Atualizado segunda-feira,
25 de Agosto de 2025 às 19:11

Mais um retorno para casa após cheia do Arroio São Lourenço
Famílias ainda contabilizaram prejuízos em São Lourenço do Sul. (Foto: Cíntia Piegas)

Dois dias após a cheia que atingiu São Lourenço do Sul, a situação começa a se estabilizar no município e o período é de contabilizar prejuízos. Segundo o prefeito Zelmute Marten (PT), nesta segunda-feira (25) as dez famílias que ainda estavam no abrigo da comunidade Nossa Senhora de Fátima, do total de 37, receberam apoio da Defesa Civil com o transporte do que pode ser salvo, para voltar para casa.

Elas ainda ganharam mantimentos como produtos de limpeza, cestas básicas, colchões e cobertores. Está prevista a chegada de mais mil cestas básicas, encaminhadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para as famílias atingidas pela cheia do arroio São Lourenço do Sul.

Foram 300 milímetros (mm) de chuva, segundo os cálculos da prefeitura, o que sobrecarregou o arroio com o volume vindo da área rural, atingindo duas mil residências que margeiam o canal. Uma delas foi da moradora da rua General Osório, Lisane Ieque. Na sexta-feira (22), quando a chuva começou a cair forte, a família dela imaginou que o arroio pudesse subir. Como não usa redes sociais, a moradora não viu os alertas publicados pela prefeitura. “A gente acabou pegando no sono e, quando acordei, eram 7h10min e a água já estava dentro de casa”, conta.

Essa foi a terceira enchente do ano, mas a primeira vez em que a água invadiu a residência. Nas duas anteriores, a cheia apenas ameaçou e não passou da porta. “A gente foi deitar tranquilo, achando que ia ser igual das outras vezes, mas acabou entrando, pegando a gente de surpresa. Eu já tinha passado por enchente aqui quando era criança, mas foi a primeira vez que acordei com a água dentro de casa.” A sensação de viver na beira do arroio, sempre com a incerteza de quando a água vai voltar, é descrita como angustiante. “É horrível, mas quem mora aqui acaba se acostumando, porque vira quase uma rotina”, lamentou.

A diarista Fabiane de Moura Dias, 38, mora há quase quatro décadas às margens do arroio. Ela conta que a família só percebeu a enchente quando já era tarde demais. “Foi avisado que a água viria, mas nós só nos levantamos quando o cachorro começou a se afogar. Escutamos os gritos dele e vimos que a água já estava na porta da casa. Ela subiu muito rápido, não deu tempo de tirar quase nada. Perdemos quase tudo dentro de casa”, relatou.

A família precisou sair às pressas e se abrigou na casa da irmã de Fabiane, que também teve o pátio alagado. Agora, o esforço é para levantar móveis, limpar e tentar salvar o que restou. “Os colchões, a maioria, conseguimos botar no alto. Mas o da minha guria, da minha mãe, ficou banhado na água. Consegui dois colchões pra ela, que a prefeitura trouxe. As roupas não deram tempo de tirar, ficaram todas debaixo d’água.”

Fabiane explica que dormir à beira do arroio é sempre uma tensão. “Não dá para deitar tranquila. Dia de chuva é pior ainda. Sempre que venta muito forte, a água sobe. A gente vive com esse medo constante.

Para as duas moradoras da General Osório, os prejuízos foram grandes. “A gente não colocou tudo fora, estamos tentando secar as coisas porque não tem como comprar de novo”, revela Lisane. “Isso sempre acontece. Já passamos por enchentes em maio, e agora de novo. É um caos”, desabafa Fabiane.

Atuação

A Defesa Civil Municipal segue atuando no apoio às famílias desalojadas. Segundo a coordenadora Aline Blank, desde o último domingo as equipes têm auxiliado moradores a retirarem móveis das casas, iniciar a limpeza e receber donativos. “É uma realidade muito triste, muitas famílias perderam tudo. Mas precisamos reconstruir e estar de mãos dadas com a comunidade neste momento”, afirmou Aline.

O coordenador Marcelo Ferreira destacou as principais demandas atuais. “O que mais precisamos no momento são kits de limpeza, cestas básicas e kits de higiene pessoal. Roupas e colchões já chegaram em quantidade suficiente. Quem ficou desalojado, mas não passou pelo abrigo, pode entrar em contato conosco pelo telefone (53) 99193-4392 para receber orientações e apoio”, explica.

Alerta permanente

Além da assistência, a Defesa Civil reforça a importância de que os moradores se mantenham atentos aos comunicados e previsões. Aline lembrou que, na sexta-feira à noite, a equipe emitiu o primeiro vídeo de alerta e passou a madrugada monitorando a situação. Por volta das 4h da manhã, o arroio São Lourenço saiu do leito com força e rapidez, obrigando os agentes a percorrerem as casas e contar com apoio da Brigada Militar para avisar a população com sirenes.

“Infelizmente, esse é o nosso novo normal. Este já é o quarto evento em oito meses. Sempre que houver previsão de chuva intensa, é fundamental que as pessoas fiquem em alerta e, se possível, saiam de casa preventivamente. O que estamos vivendo vai se repetir com cada vez mais frequência”, reforçou Aline.

Resiliência

Para o chefe do Executivo, é necessária uma consciência de cidadão coletivo. “Os rios estão subindo, a temperatura está se elevando. As previsões são dramáticas. Então, é a adaptação, porque a gente fez uso do solo de maneira que não consegue mais receber a intensidade de água. Quem está nessas áreas sabe que são situações recorrentes”, afirma Marten.

Sobre as ações de prevenção, o prefeito destacou que a administração vem trabalhando com novos sistemas de monitoramento. “Foram instalados pluviômetros no Candombe e no Passo do Pinto, além de uma estação meteorológica no campus da Furg”, destaca. Isso permitiu que a primeira informação de possível cheia fosse divulgada às 21h de sexta-feira. “A nossa Defesa Civil atuou batendo nas casas, acordando as pessoas. Ocorre que às 4h, a água que veio, em especial do interior, foi com muita velocidade e intensidade.” A etapa agora é de elaboração de relatórios e dados que serão enviados ao governo federal, para garantir repasse de recursos para o município.

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